quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Tradução de Palavras através dos Afixos e Raízes - Pt. 2

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Veja a parte 1 aqui.

Nota-se que a relação entre os Morfemas não é exclusivamente do Prefixo ao Sufixo (ou vice-versa). Entretanto, como o Sufixo é o elemento que causa o sentido final da palavra, ou seja, é ele que define se o Vocábulo a ser definido dará a ideia de ação, resultado da ação, lugar, profissão, quantidade etc. Desta forma, é normal que se inicie a "tradução" por ele.

Isso não se aplicará, certamente, às Palavras-verbo. Em pesquisásseis, há o Prefixo {pes} = através; Raiz {quis} = procurar; Desinência Verbal {sseis}; esta, que pode ser especificada como: {sse} = Desinência Modo-temporal; {is} = Desinência Número-pessoal. Nesse caso, não cabe uma tradução da Desinência Verbal (ou Nominal, se fosse o caso), pois esta apresenta apenas a indicação de Modo, Tempo, Pessoa e Número de um verbo conjugado. Não faria sentido uma tradução como "Procurar através de vós no Presente do Subjuntivo".

A complexidade e dificuldade na tradução dependerá, obviamente, da Palavra a ser analisada. Há casos óbvios como canavial, que não tem Prefixo, a Raiz é {can} = cana e os Sufixos são {av} = lugar e {al} = plantação. É claro o sentido de "Lugar de plantação de cana". Entretanto, em desejo, não há uma facilidade de interpretação tão grande: Prefixo: {des} = muito; Raiz: {sej} < {sid} = astro, ou seja: "Muito astro", o que não faz muito sentido. Analisando a Palavra Latina desiderium, originária de desejo, vê-se que, realmente, lá está a Raiz {sid}. É um caso que, provavelmente, tem como valor semântico uma matáfora, justamente como ocorre, de modo mais claro, em embriaguez, com Prefixo: {em} = muito; Raiz:{bri} = vaso de vinho, {agu} = água; Sufixo: {ez} = qualidade, ou seja, é a "qualidade de muito vaso de vinho e água". Aqui, pode-se ver "água" como um eufemismo para a bebida alcoólica, já que a Raiz {bri} denuncia aquilo de que se trata.

Algumas Palavras obedecem realmente o padrão Sufixo - Raiz - Prefixo, quando as traduzimos. Em transmissão, há o Prefixo: {trans} = através; Raiz: {miss} = que envia e Sufixo: {ão} = ação. Literalmente, pode-se traduzi-la como "Ação de enviar através (de alguém - funcionando como um advérbio de meio). Em assistência, o Prefixo: {a} = junto; Raiz {ssist} = permanência e Sufixo {ência} = ação também podem ser colocados "de trás para frente": "Ação de permanecer junto" (no sentido de dar assistência a alguém). Em encerramento, há o Prefixo {en} = muito; Raiz {cerr} = fechar e Sufixo {mento} = aumento. Neste caso, não funciona o sentido de tradução S - R - P, pois pode-se considerar o Sufixo como elemento modificador tanto do Prefixo como da Raiz. Seria a "intensidade de fechar muito" - como se pudéssemos colocar o Prefixo e Raiz entre parênteses e, por fora, o Sufixo para modificá-los, como numa operação Matemática.

- Darini

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Tradução de Palavras através dos Afixos e Raízes

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É certo que cada palavra tem sua gama específica de valor semântico. Todavia, isso não nos impede de realizar como que uma "tradução livre" do significado de um vocábulo através dos significados de suas Raízes e Afixos.


Em subterrâneo, tem-se: Prefixo: {sub} = abaixo; Raiz: {terr} = planeta; Sufixo = {âneo} = relação. Ou seja, "Relativo ao que está abaixo do planeta". Quase o mesmo, encontramos em submersão: Prefixo: {sub} = abaixo; Raiz: {merg} = dentro d'água; Sufixo: {ão} = ação. Ou seja, é a "Ação de estar abaixo da superfície da água".


O significado do dicionário é totalmente dispensável na imensa maioria dos casos, já que, através da análise desses Morfemas, conseguimos entender a essência da palavra. Em delinquencia, há o Prefixo {de} = muito; a Raiz {linq} = abandono e o Sufixo {ência} = ação. Podemos traduzi-la como "Ação do muito abandonado".


Todavia, pode-se incrementar a palavra, trabalhando com mais Morfemas. Em imprevisíveis, há dois Prefixos: {im} = não e {pre} = antes; Raiz {vis} = vidência e Sufixo {vel} = qualidade, o que nos retorna algo como "qualidade de não ver antes".


Em alguns casos, saber como e onde colocar cada Morfema é apenas questão de prática. Conforme vai-se trabalhando com esses elementos, torna-se até mesmo intuitivo o modo como disponibilizamos o significado de cada pequena tradução que gera uma maior. Em incompreensível, há os Prefixos {in} = não, {com} = junto, {pre} =muito; a Raiz {ens} = possuir e o Sufixo {ível} = qualidade.


- Darini


domingo, 15 de novembro de 2009

Otimismo

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Tirinha que eu mesmo criei. É a primeira e não sei fazer isso, portanto sejam generosos nos comentários. ;)





- Darini

domingo, 8 de novembro de 2009

O "cujo" e a FEI


Tudo bem que é uma faculdade totalmente voltada à área de exatas, mas bem que alguém poderia ter notado o "erro" do texto e tê-lo corrigido para algo como: "Será que dá para fazer um celular cujo sinal pegue em qualquer lugar do planeta?".

Sim, é bem provável que, em breve, o "cujo" desapareça do idioma; vai se tornar um arcaísmo deste lado do Atlântico. Entretanto, o que vale (ainda) é o que consta na tão demoníaca "Norma Padrão", gostemos ou não.

Pessoalmente, gosto do "cujo". Verdade! Só de pensar que é o Genitivo do Pronome Relativo, já fico emocionado. Bem verdade, raramente menciono-o numa conversa informal, mas sempre coloco-o na linguagem escrita.

Para pensar: Será que, no vestibular dessa faculdade, desconsiderariam esse tipo de "erro" por parte dos candidatos?

- Darini

P.S.: No texto superior à direita do anúncio, há algo que também pode gerar uma postagem neste blogue. Alguém chuta o que é?

sábado, 24 de outubro de 2009

A Linguística insular

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Idioma

Palavra

Raiz(is)

Sufixo

Vogal Temática

Anglo-Saxão

Iegland / Ig / Ieg

{ieg}; {land}

não há

não há

Alemão

Insel

{ins}

{el}

não há

Francês

Ille

{ill}

não há

{e}

Inglês

Island / Isle

{is}; {land}

não há

não há

Português

Ilha

{ilh}

não há

{a}

Holandês

Eiland

{ei}; {land}

não há

não há

Latim

Insula

{ins}

{ul}

{a}

Espanhol

Isla

{isl}

não há

{a}

Italiano

Isola

{is}

{ol}

{a}



A Geografia básica ensina,‭ ‬desde as primeiras séries escolares,‭ ‬que ilha é‭ “‬uma porção de terra cercada de água por todos os lados‭”‬.‭ ‬Melhor definição seria feita se,‭ ‬literalmente,‭ ‬fosse tomado o valor semântico da Raiz para melhor adequar esta definição:‭ “‬ilha é uma porção de terra separada do continente‭”‬ (o‭ “‬cercada de água por todos os lados‭”‬ ficaria redundante‭)‬.‭

A diferenciação na grafia do Português em comparação às outras Línguas Neolatinas se explica pelo‭ ‬fato de que,‭ ‬em nosso idioma,‭ ‬o vernáculo veio do catalão‭ ‬illa.‭ ‬Tendo esta forma sido derivada da latina‭ ‬insula,‭ ‬nada impede que ela nada mais seja do que a transformação da forma diminutiva do Latim.‭ ‬Algo como:‭ ‬insula‭ > *‬insucula‭ > *‬insulha‭ > *‬inlha‭ > ‬ilha.

Nas Línguas germânicas analisadas,‭ ‬o detalhe vai para a aglutinação das Raízes‭ (‬efeito que não ocorre no Alemão,‭ ‬que parece ter emprestado do Latim o Sufixo final‭) ‬com a Raiz‭ {‬land‭} < *{‬landa‭} < *{‬lem‭} = ‬terra.

Lógica e precisa foi a atribuição da Raiz‭ {‬ins‭}‬ para ilha.‭ ‬Se dependesse das definições e conceitos atuais,‭ ‬qualquer cidade circundada por algum rio poderia ser considerada uma ilha,‭ ‬pois‭ “‬é uma porção de terra cercada de água por todos os lados‭”‬.

- Darini

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Trabalho para pessoas sérias


Essa, achei em um desses jornais de empregos e concursos.

Você é uma pessoa séria? Ótimo, pois é justamente disso que o empresário do anúncio procura. Entretanto, vou ensinar como trabalhar a partir de casa:

a- Você acorda, faz suas rotinas (café, banho etc.);

b- Começa a TRABALHAR (sim, em casa mesmo);

c- Pega a condução (ou carro) e CONTINUA TRABALHANDO. Se for dirigindo, cuidado! Tente conciliar o trânsito com sua tarefa;

d- Chegue no local de trabalho trabalhando;

e- Voilá! Você acabou de trabalhar a partir de casa.

- Darini

domingo, 4 de outubro de 2009

Jornal, dinheiro, lixo e Kassab


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Esse jornal é de umas semanas atrás. Não me pergunte qual é, pois não me lembro.

Lição de casa: não tinha um jeito melhor de se escrever essa manchete? Apenas especificando, refere-se ao recuo do prefeito de São Paulo em relação aos cortes que faria no setor de limpeza pública.

- Darini

sábado, 26 de setembro de 2009

Uma Nova Literatura?

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Basta um rápido passeio em qualquer livraria, e podemos notar: atualmente, existe uma incrível diversidade literária disponível aos leitores. Todos os gostos parecem estar refletidos nas intermináveis prateleiras, muitas delas com títulos a preços promocionais do tipo "só não leva quem não quer".

Entretanto, se pensarmos nos temas dessas obras, teremos meia-dúzia de categorias em que podemos inseri-las:

- Autoajuda: é, provavelmente, o câncer literário dos dias atuais. Porta sempre o mesmo discurso genérico e vazio ("Siga em frente!", "Busque seu sonho!", "Não desanime!" etc). Geralmente, o autor do livro de autoajuda é aquele camarada que vai na sua empresa fazer aquela meia-dúzia de dinâmicas estranhas, fala o que você quer ouvir, faz o comercial dele e pronto. No dia seguinte, você percebe que nada do que ele disse é tão prático como se imaginava.

- Manuais: É manual para ser um bom pai, para ser uma boa mãe, para ser um bom empregado, para ser um bom chefe, para ser um bom irmão, para se conformar com a vida, com o marido, com a briga de trânsito, com o chifre... tudo é colocado de uma maneira que faz com que pensemos serem todas as situações iguais. Você não é ninguém sem ler um desses, será um ser-humano melhor se ler um desses (faz-me rir...).

- Leituras corporativas em geral: poderiam até ser enquadradas na categoria "Manuais", mas conseguem disfarçar e se distinguir desta. Coisas como "relacionamento humano nas organizações", "dinâmicas de grupo" e afins são abordados aqui. Aliás, o que está acontecendo com as terminologias? Empresa virou "organização", empregado virou "associado" ou "colaborador"; "caso" anglicizou-se e virou "case"...

- Animais: Na onda de "Marley & eu", encontramos uma avalanche de livros sobre animais e seu relacionamento com os donos. Coisas do tipo: "Meu cachorro e eu", "Minha coruja e eu", "Meu papagaio e eu", "Minha sogra e eu", "Minha perereca e eu" são obras comuns nas prateleiras. Certamente, seu animal preferido já está protagonizando algum romance; se ainda não estiver, é tudo uma questão de tempo.

- II Guerra Mundial: Outras dúzias de títulos do tipo "A Biblioteca Secreta de Hitler", "A Cozinha Maravilhosa de Mussolini", "Como matar um duce" e outros. Nesse caso, podemos considerar o tema "Sociedades Secretas" como uma subcategoria (ou esta daquela, vai saber).

- Romances religiosos em geral: Também há uma infinidade, do tipo "Jesus, Da Vinci e Dan Brown: O Enigma da Brown GP", "Os filhos de Maria Madalena (ditado pelo Anjo Gabriel), "O ateu reencarnado" etc.

Embora eu esteja tentando ser irônico nesta postagem, o que procuro questionar é: esse tipo de literatura realmente leva o leitor a refletir, a pensar, a analisar o meio e mundo onde vive? Faz o cara raciocinar? Sim, eu sei que pode haver um pouco de entretenimento nas artes da escrita, mas parece que estamos pendendo totalmente para o lado da alienação. De que me adianta saber sobre "O dia-a-dia dos 100 maiores empreendedores do mundo", se são pessoas diferentes, que viveram situações diferentes? Quando o recém-nascido chorar, os pais de primeira viagem terão de ver no manual como proceder? E se não estiver lá?

Sempre achei que a Literatura fosse "a História contada pelas palavras da Arte". História, aqui, é a disciplina mesmo.

Isso colocado, meu medo é alguém dizer: para uma sociedadezinha tão ordinária como a nossa, esses livros estão de bom tamanho.

Não duvido.

- Darini

domingo, 20 de setembro de 2009

Um conto de meu "Liber Mortis"

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Abaixo, segue um conto (sem título) de meu Liber Mortis:

O profeta olhou no fundo dos meus olhos,‭ ‬deu um suspiro e começou a chorar copiosamente.‭ ‬Cada lágrima derrubada por ele era como se uma lança acertasse meu coração.‭ ‬Ele parecia saber dos males que eu causava.‭

Procurei afastar-me por um tempo,‭ ‬fui para o alto da colina e meditei...‭ ‬estranhas imagens oníricas se mostravam em minha mente:‭ ‬pessoas que passaram por minha vida reapareciam...‭ ‬tudo de uma forma tão confusa...

Deitei,‭ ‬dormi,‭ ‬sonhei,‭ ‬sofri e acordei.‭ ‬Voltei e não mais encontrei o profeta.‭ ‬Onde será que ele se escondeu‭? ‬Por que fez isso comigo‭?
Fui em diração à floresta,‭ ‬onde pude sentir a energia dos galhos e folhas balançando ao vento,‭ ‬assim como aquela vinda do canto dos pássaros e pureza do rio.

Continuei andando,‭ ‬seguindo a trilha que levava à caverna.‭ ‬No meio do caminho havia uma bifurcação que daria ao vilarejo.‭ ‬Preferi a primeira opção.

Olhei para o céu e vi uma solitária nuvem passeando feliz pelo azul...‭ ‬formosa nuvem,‭ ‬ofuscava até o Sol‭! ‬Beleza passeando pelo infinito.

Infinito‭? ‬Quem disse‭? ‬Quem prova que todo o Universo não é um grão de areia,‭ ‬parte de um mundo muito maior‭? ‬Intrigante como o homem tenta entender o universo,‭ ‬mas não consegue compreender a si mesmo.
A mente tem,‭ ‬dentro de si,‭ ‬todo o Universo como esse grão de areia.‭ ‬É infinita,‭ ‬mágina,‭ ‬sobrenatural.‭ ‬É divina.

A sapiência e o conhecimento parecem ser mais importantes do que o instinto...‭ ‬deveriam sê-lo‭? ‬Uma tartaruga pode viver mais de‭ ‬100‭ ‬anos dependendo apenas de seu instinto.‭ ‬Já o homem,‭ ‬mata milhares,‭ ‬usando sua inteligência e conhecimento.‭ ‬Bom...‭ ‬inteligência,‭ ‬não.‭ ‬Conhecimento,‭ ‬talvez.

Continuo andando,‭ ‬vejo outra nuvem se aproximando da primeira.‭ ‬Enfim,‭ ‬uma companhia‭! ‬Aproximam-se cada vez mais,‭ ‬até formarem uma só nuvem,‭ ‬numa comunhão que homens e mulheres não conseguem ter entre si.

Ao longe,‭ ‬a caverna.‭ ‬Vejo um vulto passando lá dentro,‭ ‬tudo estava muito escuro.‭ ‬Fico com medo.‭ ‬O suor desce pelo meu rosto e minhas pernas ficam bambas.‭ ‬O que será aquilo‭?

Fico distante...‭ ‬observo atentamente.‭ ‬Um frio percorre minha espinha.‭ ‬Medo...‭ ‬medo...

De repente,‭ ‬algo começa a ficar visível:‭ ‬uma ursa carrega seu filhote para fora da caverna.‭ ‬Ela o coloca no chão,‭ ‬lambe-o,‭ ‬mas ele parece não reagir.‭ ‬O que será que lhe poderia ter acontecido‭?

Ficou por lá durante alguns minutos...‭ ‬ou horas...‭ ‬nem sei quanto tempo se passou...‭ ‬deu,‭ ‬então,‭ ‬um rugido que mais pareceu um choro,‭ ‬e que fez toda a floresta se silenciar em reverência.‭ ‬Virou as costas e voltou à caverna.

Criei coragem e me aproximei...‭ ‬o ursinho tinha todos os músculos do corpo duros como pedra.‭ ‬Um sentimento de perda inundou meu coração e fez-me voltar alguns passos.‭ ‬Olhei para a cena e chorei...‭ ‬chorei copiosamente.

Em prantos,‭ ‬senti uma mão tocar meu ombro.‭ ‬Olho para trás e vejo o profeta,‭ ‬que me olhava com um misto de compaixão e alívio.‭ ‬Fez um sinal positivo com a cabeça,‭ ‬fazendo com que eu‭ ‬pudesse entender tudo aquilo.‭ ‬Olho para frente,‭ ‬e o corpo do ursinho havia sumido...‭ ‬olho para trás,‭ ‬e o profeta não estava mais lá.

- Darini

domingo, 13 de setembro de 2009

Livros de Minha Autoria (por enquanto)

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Independentemente, publiquei meus escritos pelo Clube de Autores. A quem interessar, o endereço é esse:

http://clubedeautores.com.br/search?qt=&qa=rodrigo+darini+valente&q=&commit=Buscar

Abaixo, segue um pouco do que é cada um:

Liber Mortis: Trata-se de 27 contos que fazem refletir sobre os aspectos da morte, e, consequentemente, sobre a vida. Embora seja um tema mórbido e evitado por muitas pessoas, vem balancear a atual onda do “tudo azul” que muitos livros retratam (autoajuda, manual do pai, manual da mãe etc.). É uma obra, considero, para REFLEXÃO.

Miscelâneas Linguísticas: Esta é uma obra para quem gosta de estudar a Língua, seus aspectos, mudanças e fenômenos. Principais assuntos abordados:

a) Morfemas (Raízes e Afixos), com os quais faz um pequeno trabalho de Morfologia comparativa. Para isso, usa exemplos de textos antigos como Beowulf, A Canção dos Nibelungos, o Evangelho de São Mateus em Gótico etc. Também apresenta essas Raízes em palavras do dia-a-dia, desde as sacras {hag} até as profanas {boc} e {car}.

b) O Português Arcaico, em que mostra as principais mudanças da Língua Portuguesa desde o século XI até hoje.

c) O Latim - algumas informações sobre esse idioma também são apresentados, incluindo o "Appendix Probi", que foi uma das primeiras gramáticas escritas.

d) Análise da "Canção dos Nibelungos", que foi o primeiro documento escrito "em Alemão".

e) Demais análises Linguísticas, num vocabulário de fácil entendimento e acessível a todos os públicos.

A Vela Sacra: Luca, um garoto de nossa dimensão, é levado por Gimmos, representante de um mundo mágico e perigoso, para encontrar a Vela Sacra, um objeto divino que trará paz àqueles reinos. A missão não é tão fácil, pois ainda têm de enfrentar as artimanhas de Zhark, um poderoso demônio que também almeja a posse de tal item. Após lutas, dragões, elfos e magias, o leitor encontra um final, no mínimo, surpreendente.

Se você é um editor que deseja publicar algum deles ou é um empresário querendo patrocinar, contate-me! ;)

- Darini

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Aluno - ser sem luz?

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Já começo desmistificando a lenda: NÃO! Aluno não significa "(ser) sem luz". Na verdade, nada tem a ver com luz, luminosidade ou termo equivalente. Resolvi fazer este pequeno artigo referente ao assunto, após ver uma meia-dúzia de páginas "especializadas em educação" dizendo que aluno tem o significado já mencionado acima, pois seria composto pelo Prefixo {a} = não e pela Raiz {lun} = luz. Pensando dessa forma, essa gente defende a abominação da palavra, substituindo-a pela "estudante", pois "aluno" é "carregada de preconceito, pois mostra a inferioridade do discípulo em relação ao Professor e blábláblá...".

Esse pessoal deveria estudar um pouco de língua, antes de escrever tanta bobagem. Triste é ver que são estudiosos com títulos de "mestres" e "doutores" (sim, esses que as faculdades adoram ressaltar e mencionar em suas propagandas) que escrevem tais abobrinhas. Pior: muitos leem, seguem e acreditam numa teoria falsa e demagógica, como tantas outras que lemos e somos obrigados a engolir. Mas vamos lá:

De acordo com Goés (1921), pode-se ver que a Raiz {al} significa "aumento, crescimento, nutrição. Alumno, segundo ele, significa criança de mama; depois, "o que é criado ou nutrido". É a mesma raiz das palavras alto, alimentar e seus derivados.

Köbler, por sua vez, apresenta-nos a Raiz Indoeuropeia *{al}, significando alimentar, crescer. Foi ela que originou a {al} do Latim, presente em altus e alumnus. No Gótico, está presente em *alda, que originou alt (velho, idade) e Eltern (pais) no Alemão moderno. Até podemos considerar, quem diria, que Eltern, literalmente, significa "velhos" naquela língua (bem como a gíria no Português Brasileiro).

Esta análise mostra que se trata de uma Raiz exclusivamente LATINA, que nada tem de Grego. Tanto que, neste idioma, a palavra aluno é σπουδαστής, algo como "spondastiz", se transliterado ao alfabeto Latino. Onde estaria a Raiz {a}? E a Raiz {lum}? Alumnus seria αλυμνυς e alumno seria αλυμνo, mas essas duas formas não existem no Grego, o que faz cair por terra a teoria pedagógica: como uma palavra Grega não existiria no próprio Grego? E, aqui, não falo de valor semântico, que pode mudar de um idioma para o outro, mas da não-existência da palavra no léxico do idioma (Por exemplo: no Brasil, usamos a palavra inglesa outdoor para os letreiros de propaganda, mas, em inglês, usa-se billboard).

Em suma: em aluno, encontramos, ao contrário do que muitos doutores de teorias furadas defendem, um sentido metafórico e até poético. O conhecimento que a escola lhe dá (ou deveria dar) alimenta-o intelectualmente, fazendo-o crescer. A comparação com o alimento orgânico foi realmente genial.

Esta pequena crítica mostra o quão importante é ensinar LÍNGUA nas faculdades, ao contrário do que se tem feito. O Professor precisa, SIM, saber a chamada (e endemoniada) Gramática Padrão, Norma Culta ou seja lá como a denominam. Ele não precisa encher seus ALUNOS de regras e nomes estranhos, mas deve conhecê-los para que não saia dizendo besteira em teorias furadas. Deixemos Paulo Freire um pouco de lado e estudemos Napoleão Mendes de Almeida, Alcebíades Fernandes Jr. e Celso Cunha. Não vai fazer mal.

Certo, doutores?

- Darini


==== Bibliografia: ====

GÓES, Carlos. Diccionario de Raizes e Cognatos da Lingua Portugueza. 1ª ed. Belo Horizonte: Imprensa Official do Estado de Minas Geraes, 1921. 359 pág.

KÖBLER, Gerhard. Indogermanisches Wörterbuch. Disponível em http://www.koeblergerhard.de.

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domingo, 30 de agosto de 2009

Poderoso Timão "admiti"? Admitia!

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Antes de mais nada, esclareço: a) o erro já foi corrigido (em parte); b) não torço para time nenhum (na verdade, odeio futebol). A foto foi tirada com um celular, por isso a definição não está lá essas coisas.

Ao escrever, devemos prestar atenção na Desinência Verbal do verbo com que trabalhamos, pois algumas podem causar dúvidas e/ou induzir ao erro. Neste caso, o digitador assim deve ter pensado: "se nós admit{imos} e o verbo é admit{ir}, então *ele admit{i} - admiti-se". Por analogia, deve ter pensado nos verbos sair (ele sai), cair (ele cai), mas se esqueceu do dormir (ele dorme). Deixou a placa lá por uma semana (ou mais), até que alguém o avisou (provavelmente, um candidato à vaga, que, por sinal, não levou o emprego, pois a nova placa ainda está lá).

Voltando à referência do item a lá em cima, há um fenômeno cujo erro nem mais considera-se como aberração Linguística: a Voz Passiva Sintética, que causa uma confusão considerável em anúncios (principalmente).

Alguns estudiosos dizem que, na cabeça do falante, "Admite-se subgerente e vendedor" não tem nada de Voz Passiva. Ao contrário, essa partícula "se" é o Índice de Indeterminação do Sujeito e o complemento é um Objeto Direto. É até possível perguntar: "Admite-se o quê?" E a resposta: "Subgerente e vendedor".

Entretanto, para a Gramática Normativa (até o momento, a forma oficial), essa estrutura continua sendo considerada a tal da Voz Passiva Sintética. De acordo com essa linha de pensamento, o correto seria "Admitem-se subgerente e vendedor", pois estes dois são o Sujeito Composto da Oração: Subgerente e vendedor são admitidos.

Portanto, em caso de prova, concurso público, elaboração de memorando, cartas comercias e afins, lembre-se: é plural? Use a forma oficial.

- Darini

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Trair e coçar... é só começar

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Tempos atrás, peguei-me pensando nessa frase. Brincando com a ordem das orações, comecei a analisar suas relações e o uso da pontuação. Vamos ver no que pode dar:

São quatro orações:

Trair / e coçar / é / começar.

Há três verbos em forma nominal (infinitivo) que não podem ser Oração Principal. Portanto, resta-nos:

O1- trair: ?
O2- e coçar: Oração Coordenada Sindética Aditiva (em relação à O1)
O3- é: Oração Principal
O4- só começar: Oração Subordinada Substantiva Predicativa

Primeiramente, pensando na semântica dos elementos nesse período, achei existir uma conjunção elíptica (oculta) na frase. Vejamos:

a) (Para) trair e coçar é só começar.

Aqui, o "para" faz com que a Oração "(Para) trair" se torne uma Oração Subordinada Adverbial Final: "A fim de que se traia e coce, é só começar". Como houve inversão da Oração Principal com a Subordinada Final, a indicação é feita por vírgula:

Trair e coçar, é só começar.

Entretanto, seria uma "gambiarra" colocar essa conjunção "para" aí. Fazendo a inversão nas Orações (sem ela), teríamos:

b) É só começar a trair e coçar.

Aqui, a conjunção a é necessária sintaticamente - a regência de "começar" exige.

O1 - É: Oração Principal
O2 - só começar:
Oração Subordinada Substantiva Predicativa
O3 - a trair: Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta
O4 - e coçar: Oração Coordenada Sindética Aditiva (em relação à O3)

Acontece que, semanticamente, as duas estruturas diferem, pois, na frase original, o sentido de finalidade fica explícito. Já no exemplo b, "trair e coçar" mais parecem ser complementos do verbo começar (a), o que não é inteiramente verdade na sentença original. Dada essa diferença semântica entre as orações, quando as colocamos em ordens distintas, podemos deduzir que, embora relacionadas, são partes de discursos diferentes. Não se pode mudá-las de posição, pois perde-se o sentido inicial. Portanto, a melhor forma de pontuar essa frase seria:

Trair e coçar... é só começar.

Com reticências, pois são períodos de discursos diferentes, mesmo que ligados semanticamente pelo contexto. Mantivemos a ordem, os elementos, a coesão e a semântica.

- Darini

domingo, 23 de agosto de 2009

Pyongyang - Livro de Guy Delisle

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Mesmo não sendo fã de quadrinhos, surpreendi-me positivamente com um livro chamado "Pyongyang", do canadense Guy Delisle. Nesta obra, cujo título é o nome da capital da Coreia do Norte, o autor relata suas aventuras e experiências nos dois meses em que viveu naquele país. Para isso, mistura humor, crítica e poesia (o final é surpreendente) em relatos que nos fazem viver com ele situações nada ortodoxas no país "mais fechado do mundo".

A forma como são mostrados os "guetos" e lugares frequentados pelos estrangeiros são outro ponto forte da obra, pois mostra como estes acabam vivendo num mundo paralelo àquele dos nativos (e vice-versa). Embora se trate de uma verdadeira descrição da sociedade norte-coreana (sim, com hífen), Delisle não deixa de expor claramente seus pensamentos a respeito do que vê. Diz ele:

"Na verdade, eles vivem num estado de constante paradoxo, onde a verdade é tudo menos imutável."


Diz "constante paradoxo", pois veem e sentem a forma como o governo os trata, mas nada podem fazer; ao contrário, vivem um eterno estado de cegueira utópica, como na parte em que Guy pergunta a seu guia e intérprete o que era aquela imensa construção que avistam durante um passeio a pé e este finge não saber do que se trata. Aquele que seria o mais alto hotel da Ásia, construído em 1988 para acolher os atletas das Olimpíadas de Seul, nunca foi terminado. São 105 andares que passam despercebidos aos norte-coreanos, que parecem não poder vê-lo. Da mesma forma, os maiores sucessos musicais do país são os hinos ao Kim Il-sung e Kim Jong-il, respectivamente o fundador e o herdeiro de sua ditadura proletária.

Em suma, Pyongyang é um livro que merece ser lido, independente da visão política do leitor. Seu enredo é objetivo (destaque para o bom trabalho de tradução feito), ironia e críticas feitas no tom certo, saindo dos lugares-comuns a que somos submetidos, quando nos deparamos com esses temas. Uma bela obra de arte.

- Darini

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A Vírgula nas Orações Subordinadas Adverbiais Temporais

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Este pequeno artigo visa fazer uma análise do uso da vírgula nas Orações Subordinadas Adverbiais Temporais em matérias jornalísticas retiradas da mídia digital (internet). Para a análise, será usada a teoria conforme Fernandes Jr. (2007).

Será definida como Oração Subordinada Adverbial Temporal (OSAT) aquela cujo fato refletido for a resposta para a pergunta “quando?” aplicada ao verbo da Oração Principal. Um “fato” é um sistema de relações entre seres. O tempo, o lugar e o comportamento são seres na composição dos fatos.

Conforme Fernandes Jr. (2007), usa-se a vírgula, que é um sinal gráfico aplicado nas estruturas morfossintática, sintagmática e sintática para demarcar o início de uma Oração Subordinada Adverbial Temporal.

Na seção “Mundo” do site Folha Online, de 03/11/2008, em matéria intitulada “Uribe chama de cúmplice das Farc o diretor da ONG Human Rights Watch”, encontra-se a seguinte passagem (aqui, já com os verbos sublinhados e os Períodos divididos):

Uribe acusou o ativista chileno durante uma reunião com indígenas / que protestam desde o dia 14 de setembro, / quando denunciaram violações de direitos humanos pela força pública, / a qual acusam de assassinar três nativos durante as manifestações.

Para uma melhor análise, convém dividir a Oração da seguinte forma:

Oração Principal: Uribe acusou o ativista chileno durante uma reunião com indígenas.
Oração Subordinada Adjetiva: que protestam desde o dia 14 de setembro.
Oração Subordinada Adverbial Temporal: quando denunciaram violações de direitos humanos pela força pública.
Oração Subordinada Adjetiva: a qual acusam de assassinar três nativos durante as manifestações.

Neste caso, pode-se notar a incidência da vírgula indicando o início de uma OSAT. Entretanto, o mesmo não acontece no caso a seguir, retirado da página de notícias do UOL (Universo On-line), em análise de 03/11/2008 intitulada “ Como Obama passou de azarão a favorito”: “Barack Obama era um azarão na disputa presidencial / quando lançou sua candidatura na escadaria do capitólio de Illinois, num dia gélido de fevereiro de 2007.

Oração Principal: Barack Obama era um azarão na disputa presidencial.
Oração Subordinada Adverbial Temporal: quando lançou sua candidatura na escadaria do capitólio de Illinois, num dia gélido de fevereiro de 2007.

Há, neste caso, uma mudança na “regra” usada pela autora do texto: a Oração Subordinada Adverbial Temporal não tem seu início indicado pela vírgula, mas o Adjunto Adverbial “num dia gélido de fevereiro de 2007” leva, mesmo não sendo necessário.

Na seção “podcasts” do Folha Online, em matéria de 03/11/2008 intitulada “Mercado já esperava fusão do Unibanco; ouça economista”, encontra-se: “O professor explica / que a credibilidade do Unibanco foi abalada, na semana passada, / quando sua ação ficou entre R$ 4 e R$ 5.

Oração Principal: O professor explica.
Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta: a credibilidade do Unibanco foi abalada, na semana passada.
Oração Subordinada Adverbial Temporal: quando sua ação ficou entre R$ 4 e R$ 5.

Houve, portanto, o uso da vírgula para indicar o início da OSAT, mas, por outro lado, é desnecessário o uso desta para indicar o início do Adjunto Adverbial “na semana passada”, em “a credibilidade do Unibanco foi abalada, na semana passada.” Nota-se, nestes dois últimos casos, a preocupação do autor do texto quanto à oralidade, ou seja, as vírgulas são usadas para indicar possíveis “pausas” na leitura.

Na mídia em geral, serão inúmeros os exemplos de um uso não-lógico (ilógico?) da vírgula. Seja pela obediência a "manuais de estilo", seja pela oralidade, seja por desconhecimento, o fato é que mesmo aqueles que deveriam ensinar esse assunto nas universidades não o fazem.

- Darini

Bibliografia:

- FERNANDES JR. A. Dialética da Língua Portuguesa. 1ª ed. São Paulo: LivroPronto, 2007.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Revolução das Palavras

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- Abaixo as nomenclaturas! - Disse o e.
- Apoiado! - grita o quando.
- Chega da ditadura dos gramáticos! - responde o talvez.

Fazia algum tempo que as palavras haviam se reunido para deflagar uma guerra contra as denominações. Queriam ser apenas palavras e nada mais. No meio da revolta, o fui protesta:

- Vejam meu caso, por exemplo: alguns dizem que sou a primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do verbo ser; outras, por outro lado, dizem que sou a primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do verbo ir. E agora, o que sou realmente?

- Isso não é nada. - disse o e. Não sei se sou vogal, se sou uma conjução... alguns dizem que devo trabalhar na Oração Coordenada Sindética Aditiva; outros, que, às vezes, posso ficar na Oração Coordenada Sindética Adversativa. Isso, quando não apareço no meio de uma Oração Subordinada Adverbial Causal ou Final. E a vírgula? A vírgula! Ninguém a quer perto de mim! Não sei quem inventou que não posso ser acompanhado por uma bela e jovem vírgula. Querem me vez sozinho, é isso? Gente... tenho sentimentos, faço terapia há tempos... e... e...

O e se retira, chorando como uma criança faminta. Nisso, o que toma a palavra:

- Não creio que o e tenha mais problemas do que eu... posso aparecer numa oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta, Objetiva Indireta, Oração Subordinada Adjetiva... milhares de alunos me odeiam, e sabem por quê? Não sabem quem eu sou! Nem eu sei quem sou! Às vezes, vem o o me fazer companhia; por outras, vem outra preposição ou artigo. Já estou começando a ficar falado na minha vizinhança. É triste isso...

- Pior sou eu! Todos já esqueceram de mim! - grita o cujo - eu sou o genitivo do que, fiquem sabendo! O genitivo!

- Onde estão os quadrigêmeos? - pergunta o para.

- Aqui! Aqui! Aqui! Aqui! - respondem o por que, porque, por quê e porquê.

- Viram só o que fizeram com a gente? Separaram-nos! - disse o por que.
- É muito ruim quando um de nós é apagado para dar lugar a outro! - complementa o porque.
- Nem me diga... às vezes, o caderno fica todo manchado bem na parte em que tentam nos escrever! - protesta o por quê.
- Se fôssemos um só, poderíamos ser bem mais fortes! Vamos ficar unidos! - grita o porquê.

- Só há uma coisa a ser feita! - resolve o quando, líder das palavras - A greve!

- GREVE! - gritam todas as palavras (inclusive a palavra greve, que, naquele momento, sente-se como se não fosse um estrangeirismo).

Daquele dia em diante, não houve mais palavras impressas. Tudo o que era escrito num papel, num computador ou em qualquer outro lugar se apagava em seguida. As gramáticas ficaram vazias: eram apenas páginas em branco. Os jornais não traziam mais nenhuma informação e os noticiários mostravam tímidos e inseguros âncoras tentando falar sobre uma notícia. Em pouco tempo, não houve mais projetos de engenharia, pois os números estavam lá, mas as palavras que indicavam os procedimentos haviam sumido. O mesmo aconteceu com os manuais de instrução, com as bíblias, revistas, livros... tudo havia desaparecido.

A sociedade entrou em polvorosa; os gramáticos e linguistas também. Os advogados, então, nem se fala... contratos e testamentos, agora, estavam em branco. Famílias brigavam entre si e sócios desfaziam seus negócios. Brigas e tumultos eram comuns. Ninguém mais sabia para onde era aquele ônibus. Cansado de gritar o nome do destino final, o motorista apenas passava direto. As declarações de guerra também foram apagadas. Em alguns casos, apenas para zombaria, as letras se misturavam, formando conexões semânticas nada agradáveis àqueles que as liam. As pichações (sim, acredite, aquilo que vemos nas paredes são letras e palavras) também sumiram, para a alegria de seus proprietários. Menos para um, que já havia comprado a tinta para limpar aquela sujeira. Será que a loja aceita devolução?

O tempo passou, e as pessoas desaprenderam a escrever. Isso começou a ser fator de preocupação por parte dos rebeldes:

- Se esquecerem como se escreve, o que será de nós? - interrogou a interrogação.
- Seremos extintos! - exclamou a exclamação.
- Que vida cruel... - concluíram, reticentes, as reticências.

- O jeito é voltar! - resolve o quando - estão todos de acordo?
- Sim! De acordo! - concordam todos.

Entretanto, as letras voltaram com tanta pressa àquelas que deveriam ser suas posições, que muitas palavras ficaram embaralhadas:

"A vdai é coom um vlior: snó mosos os psstarotgonia e o nlafi ad ahóirsit ededpen de nassso çasõe."

- Darini

sábado, 8 de agosto de 2009

Darini cafaJeste

***

Outro dia, conversando com uma grande amiga pelo MSN, fui enfático ao dizer-lhe:

"Acredite em mim... não sou cafaGeste."

Ela, de prontidão, corrigiu-me:

"CafaJeste!"

Ri muito do acontecido (não me importo que me corrijam; ao contrário, adoro quando isso acontece), e relatei-lhe um fato curioso: uma vez, dando curso de Leitura Instrumental, escrevi "licenSa" tranquilamente na lousa. Ao ser alertado sobre meu erro, corrigi-o, claro, e imaginei os fatores que nos levam a erros ortográficos.

No caso de "licensa", é culpa dos videogames de minha infância / adolescência, pois não era raro ver a expressão "Licensed by...", ou seja, "Licenciado por...", bem como "Produced under license of...", que significa "Produzido sob licença de..." Portanto, como não saía da frente daqueles joguinhos, a forma em Inglês me fez imaginar assim aquela em Português. Nem lembrei do sufixo {ença}, que significa "ação", e faz parte da palavra. Inventei, no lugar, o *{ensa}, que não significa nada!

Já em "cafaGeste", foi chute e ignorância minha mesmo. Curioso que sou, fui tentar achar a Raiz dessa belezinha de palavra, quando, para minha surpresa, dei com os burros n'água. Fui até o Dicionário Etimológico do A.G. Cunha, onde li ser essa uma palavra com registro dos fins do século XIX e de origem controversa! Isso faz com que "cafajeste" entre na minha lista das "Raízes a serem procuradas".

A cafajestagem merece isso. Ou não.

- Darini

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

As Raízes Linguísticas e a Literatura

***


Consideremos a história de um determinado povo. Depois, coloquemo-na na mente de um poeta ou escritor. Nasce a Literatura. Não caberá, aqui, falar pormenorizadamente de Gêneros Literários ou (ainda menos) fazer a Análise Literária de alguma obra. O que nos interessa, ao trabalharmos com a Morfologia aplicada na Literatura, é a observação de como as Raízes e seus valores Semânticos são apresentados.

É necessário ressaltar alguns exemplos que mostram como o poder da Palavra (em nosso caso, da Raiz) é importante no papel que os personagens desempenharão, mesmo que de forma implícita.

Raiz - *{DERK} (i.e.) > {DRAC} (grego) = serpente alada

Algumas Ocorrências:

Idioma

Palavra

raiz(is)

Sufixo

VT

Alemão

Drache

{drach}


{e}

Inglês

Dragon

{drag}

{on}


Holandês

Draak

{draak}



Norueguês

Drake

{drak}


{e}

Sueco

Drake

{drak}


{e}

Português

Dragão

{drag}

{ão}


Francês

Dragon

{drag}

{on}


Pelo Germânico Antigo *drako, proveniente do Indo-Europeu *{derk}. Presente nos contos mitológicos de várias culturas ancestrais, podemos notar a transformação por metátase (*{derk} > *{drek} > {drac}) nos principais idiomas modernos derivados do i.e., sejam Germânicos, como listados acima, sejam os Neolatinos: Dragon (Francês); Dragone (Italiano); Dragón (Espanhol) – todos vindos do Latim: Draco.

Raiz - *{KAILO} > {HAG}

Algumas Ocorrências:

Idioma

Palavra

raiz(is)

Sufixo

Anglo-Saxão

Halig

{hal}

{ig}

Alemão

Heilig

{heil}

{ig}

Inglês

Holy

{ho}

{ly}

Holandês

Heilig

{heil}

{ig}

Norueguês

Hellig

{hell}

{ig}

Sueco

Helig

{hel}

{ig}

Significado: Santo
Raízes: {HAG} (grego) = santo; *{KAILO} (i.e.)

Mais uma Raiz muito comum nas línguas Germânicas, {hag} também aparece de forma interessante no Gótico: háuheins significa louvar e háuhjan significa glorificar. Um exemplo interessante que já ocorria no Alemão Antigo é o nome próprio Hagen, retirado da primeira epopéia germânica, chamada “A Canção dos Nibelungos”. Embora seja o vilão da história, não seria de se estranhar que se tratasse mesmo da raiz {hag} = santo, pois sua lealdade à rainha protagonista da trama o leva à morte.

Aqui, temos mais dois exemplos de nomes próprios retirados da “A Canção dos Nibelungos”. São eles:

Raiz a - *{PERD} > {PRI} > {FRI}

Raiz b - *{SEG} > {SI} > {SIEG}

Idioma

Palavra

raiz(is)

Sufixo

VT

Alemão Antigo

Sifride

{si}; {frid}

Não há

{e}

Alemão Moderno

Siegfried

{sieg}; {fried}

Não há

não há

Significado: trata-se de um nome próprio

Aqui, há uma clara aglutinação de duas Raízes, a saber:

Raízes: {SIEG} (alemão) = vitória; {FRI} < {PRI} (latim / grego) = quebrar. Vemos, a princípio, a metátase em *{perd} (i.e.) > {pri} e, em seguida, há um efeito consonantal inicial em {pri} > {fri}. Há também a perda da Vogal Temática, por assimilação, da palavra Sifride, quando passada do Alemão Antigo para o Alemão Moderno. Quanto aa raiz *{seg}, a mudança de e para i ocorre já no Gótico *sigus e no Anglo-Saxão sig, provavelmente por influência de uma vogal fechada final.

Raiz - {BRUN}:

Idioma

Palavra

Raiz

Sufixo

VT

Alemão Antigo

Prvnnhilde

{prvn}; {hild}

não há

{e}

Alemão Moderno

Brunhild

{brun}; {hild}

não há

{e}

Significado: trata-se de um nome próprio
Raiz: {BRUN} (francês) = louro

É muito interessante a preocupação semântica dos nomes pelo autor da trama. Nela, Siegfried tem claras as características do herói: disposto a conquistar a bela Kriemhild, vai ao reino dos burgúndios, na cidade de Worms, ameaçando os regentes de tomar-lhes os domínios. Com o passar da trama, contudo, Siegfried parece desistir da idéia e acaba tornando-se aliado de Gunther, o rei burgúndio (também pelo fato de que a irmã deste agradava ao jovem herói). Com a ajuda de Siegfried, o soberano consegue vencer os saxões e os dinamarqueses, além de conquistar a poderosa Brunhild rainha da Islândia.

Dono de uma força extraordinária, Siegfried tem um único ponto fraco: uma pequena região nas costas, pela qual é morto por Hagen. A morte do guerreiro invencível (Siegfried) nos remete às raízes de seu nome: “a quebra da vitória”; a derrota daquele que sempre vencia.
Por outro lado, o BRUN (francês, que significa “louro”) é a descrição física padrão de uma rainha nórdica: a branca de olhos azuis com cabelos loiros. Vimos, nesses pequenos exemplos, a preocupação literária de quem escreveu a epopéia, ligando o valor semântico da palavra às características dos personagens.

- Darini

terça-feira, 28 de julho de 2009

As Raízes Linguísticas da Morte

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Única certeza, mas, mesmo assim, um dos maiores mistérios humanos, a morte mostra, linguisticamente, algumas variações nas Raízes cujos significados a ela nos remetem. Segundo Saussure, o pai da Linguística moderna, (2006, p. 216), "[...]chama-se Raiz ao elemento irredutível e comum a todas as palavras da mesma família". Ou seja, é o gene da palavra.

Aplicando isso ao assunto abordado, a Raiz mais usada e conhecida pelos falantes das Línguas Românicas é a Latina {mort}, oriunda do sânscrito {mor}, cujo significado é “falecimento, perecer, destruir”. Todavia, essa Raiz não é exclusividade das Línguas Neolatinas. Ela está presente no inglês mortal {mort}; no croata e esloveno smrtnik {smrt}; no letão mirstīgo {mirst}; no maltês mortali {mort} e no polonês śmiertelne {śmierte}. Obviamente, sendo essas Línguas “descendentes” do ramo Indo-Europeu e sendo a morte um fenômeno que assombra a humanidade desde sua origem, não é surpresa que haja uma Raiz universitária para ele.

As Raízes das Línguas Germânicas, por sua vez, parecem estar mais ligadas ao Grego: {thanat}, oriundas do Gótico dauthus, cujo significado é morte. Essa Raiz se encontra presente no inglês death; no alemão Tod; no dinamarquês e norueguês død; no holandês dood e no sueco död. Nas transformações Linguísticas, é comum a transformação do t em d (t > d). Não se pode dizer que {thanat} tenha originado dauthus, mas é notável que há, sim, uma Raiz ancestral comum a essas duas formas.

Outra forma grega é {necr} (de necrose e suas variantes). Essa Raiz parece ser mais comum tanto às Línguas Neolatinas como às Línguas Germânicas. Está presente no alemão Nekrose; no catalão necrosi; no estoniano nekroos; no francês nécrose; no sueco nekros etc. A influência dessa Raiz atravessou o mundo Indo-Europeu, e foi adotada em idiomas não oriundos desse ramo, como o finlandês nekroosi e o húngaro necrosis.

Mais uma Raiz latina com significado “morte” é {let}, presente em palavras como letal e letalidade. Vale notar que, dentre as Línguas Germânicas, sua forma está presente apenas no inglês lethal. As demais utilizam derivações como na forma do Gótico dauthus. Isso, claro, aconteceu por conta da “transferência” de vocabulário às Ilhas Britânicas, quando da invasão normanda em 1066.

Outra, não necessariamente significando morte, mas, sim, “que causa morte”, é a Raiz Latina {torp} (de torpe, entorpecente, torpedo e suas variantes) e a também Latina {cad}, que quer dizer “cair, perecer”.

A Raiz Indo-Europeia *{ster} "deu origem" (vem sempre entre aspas, quando fizer esse tipo de afirmação, pois, certamente, houve um longo caminho a ser percorrido entre a Raiz e sua derivada) ao alemão sterben, que significa morte literalmente. Também originou a forma latina strangulare que, posteriormente, agraciou o português com seu estrangular.

Se existe o morrer, existe o matar. O Indo-Europeu *{mer} foi a Raiz das formas maúrþrjan do gótico, morden do alemão e murder do inglês. Foi ela que originou o mors latino e suas derivações. Todavia, em Português, "matar" é mais complexo: houve a aglutinação da Raiz latina {magn}, originada pela {meg} grega (a mesma da palavra "mega" = grande), mas, nesse caso, significando "vida", com a Raiz {act}, significando "fazer" ou "levar". Algo como "levar a vida" (sabe-se lá para onde).

É o suicida quem leva a própria vida. Escondida nessa palavra, encontra-se a Raiz latina {cad}, também presente em cadáver e cair, que, por sinal, é o significado desse Morfema. O suicida é, pois, "aquele que faz cair a si mesmo", da mesma forma que o homicida "faz cair o homem" e o inseticida "faz cair o inseto".

Poético é o significado de óbito: {ob} significa espiritual e {it} significa caminho. É o caminho que o espírito pega para seu repouso eterno.

Uma vez mortos, precisamos de um lugar para ficar. Mais especificamente, para deitar. É esse o significado da Raiz latina {jac}, de jazer (do famoso "aqui jaz...") e o jazigo propriamente dito.

- Darini