segunda-feira, 25 de maio de 2015

O Ônibus Filosófico

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Entrei no ônibus, sentei no banco que me apetecia, abri minha mochila e, olhando para duas familiares capas, veio-me a dúvida: Kant ou Sartre?

Antes que o tempo da dúvida percorresse até o meu ponto de destino, num ao desesperado eu me levanto e grito aos passageiros: "Pessoal, por favor... Kant ou Sartre?"

Passageiro 1: Sua dúvida já responde a questão, meu caro! Que posso saber? Que devo fazer? Que me é dado esperar? É Kant!

Passageiro 2: Claro que não, não acredite nele! Existencialismo é o que há! O existencialismo é um humanismo! O mundo é povoado de em-si! Nossa consciência é para-si! Leia Sartre!

Passageiro 3: Não, não! Nem racionalismo nem empirismo! É Kant!

Passageiro 4: O padre está mentindo!

Passageiro 5: Isso é Nietzsche, seu asno!

Passageiro 6: Abaixo a burguesia! É Sartre!

Passageiro 7: Seja transcedental. Leia Kant!

Passageiro 8: Você é livre e responsável por tudo que está em sua volta. Nossos valores existem sem a necessidade de Deus existir. Por isso, é Sartre!

Passageiro 9: Prefiro e sempre preferirei um enfoque transcedental constituído em uma revolução copernicana na filosofia. Vá de Kant!

Depois de muita discussão, vi aquela gente se engalfinhando e partindo para as vias de fato. A briga, obviamente, começou pelos apoiadores de Sartre.

Vi a tristeza que minha dúvida se tornara. Desiludido com a filosofia, guardei os livros de volta na mochila onde, pra minha surpresa, vi que havia dois gibis: do Cebolinha e do Chico Bento.

E agora?


- Darini

P.S.: Ajudou nas referências: http://www.if.ufrgs.br/~lang/Textos/KANT.pdf

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Se chocolate e academia, por que não posso cacarejar?

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Parte 1 - Senha: Çúcar

Se, um dia, a humanidade acabar e alguns ETs vierem parar neste canto sobrio e periférico da galáxia, se tiverem sorte, poderão encontrar vestígios daquela que é a maior invenção humana: o trocadilho.

Chamado também de paronomásia (parou na Ásia? :), uma das figuras de linguagem, a beleza do trocadilho se constrói através de duas palavras com sons parecidos (daí: "parônimos"), independentemente da função sintática de cada uma (extrapola-se com gosto a liberdade poética), resultando, geralmente, em algo irônico ou sarcástico.

Parte 2 - Vim C'A GArrafa desde lá de casa

Por incrível que pareça, é meio raro encontrar material teórico sobre paronomásia, até, porque, convenhamos, não há muito do que se tratar disso. :) Um site que fala mais sobre o assunto é o http://radames.manosso.nom.br/linguagem/retorica/recursos-retorica/trocadilho, onde o professor dá uma pincelada nos tipos desse fenômeno.

Parte 3 - TemPO TÁ apertado (leia isso rapidamente e em voz alta)

E não é que os trocadilhos estavam presentes já no Antigo Egito e China? Veja:

http://www.reshafim.org.il/ad/egypt/people/humor.htm

Pelo jeito, desde que emitiu o segundo som vocal, a humanidade já começou a brincar com as palavras.

Parte 4 - A torneira foi ao psicólogo. Queria TER A PIA!

Estava eu no mercado, procurando produtos vegetarianos para a ceia de ano-novo, quando senti uma presença ao meu lado: um camarada com uns 2 metros de altura e uma mão com uns 30 centímetros invadiu a prateleira da soja, pegou 4 pacotes de uma vez e colocou no carrinho. Olhei pra ele e disse "Pô, que mão, hein!" E ele respondeu: "É que você ainda não viu o Pikachu!"

Parte 5 - Senha: Sunto

Esse assunto de trocadilhos me lembra muito de uma situação triste que aconteceu ontem, na feira que frequento: um feirante resolveu trazer uma nova fruta asiática chamada Sakaíno e queria vender pra todo mundo. O problema é que a casca daquela porcaria é muito dura e só o João, ajudante dele, tinha a faca pra cortar. Como ele estava longe, resolveu gritar: "Joãããããão!! Vem aqui cascar Sakaíno!!"

Só que o besta do João entendeu errado e foi com as calças arreadas no joelho. Foi preso por atentado violento ao pudor.

Parte 6 - Já leu Camões? Prefiro ler com os olhos!

Vamos considerar este pequeno diálogo:

Carlos: Patty, você já arrumou tudo pra gente ir à praia?
Patty: Claro! Olha aqui: biquini, protetor, coca zero... ah, também trouxe o cinto de segurança!
Carlos: Cinto de segurança? Pra quê?
Patty: Ué... não dizem que o cinto de segurança salva vidas?

- Darini