quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Aluno - ser sem luz?

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Já começo desmistificando a lenda: NÃO! Aluno não significa "(ser) sem luz". Na verdade, nada tem a ver com luz, luminosidade ou termo equivalente. Resolvi fazer este pequeno artigo referente ao assunto, após ver uma meia-dúzia de páginas "especializadas em educação" dizendo que aluno tem o significado já mencionado acima, pois seria composto pelo Prefixo {a} = não e pela Raiz {lun} = luz. Pensando dessa forma, essa gente defende a abominação da palavra, substituindo-a pela "estudante", pois "aluno" é "carregada de preconceito, pois mostra a inferioridade do discípulo em relação ao Professor e blábláblá...".

Esse pessoal deveria estudar um pouco de língua, antes de escrever tanta bobagem. Triste é ver que são estudiosos com títulos de "mestres" e "doutores" (sim, esses que as faculdades adoram ressaltar e mencionar em suas propagandas) que escrevem tais abobrinhas. Pior: muitos leem, seguem e acreditam numa teoria falsa e demagógica, como tantas outras que lemos e somos obrigados a engolir. Mas vamos lá:

De acordo com Goés (1921), pode-se ver que a Raiz {al} significa "aumento, crescimento, nutrição. Alumno, segundo ele, significa criança de mama; depois, "o que é criado ou nutrido". É a mesma raiz das palavras alto, alimentar e seus derivados.

Köbler, por sua vez, apresenta-nos a Raiz Indoeuropeia *{al}, significando alimentar, crescer. Foi ela que originou a {al} do Latim, presente em altus e alumnus. No Gótico, está presente em *alda, que originou alt (velho, idade) e Eltern (pais) no Alemão moderno. Até podemos considerar, quem diria, que Eltern, literalmente, significa "velhos" naquela língua (bem como a gíria no Português Brasileiro).

Esta análise mostra que se trata de uma Raiz exclusivamente LATINA, que nada tem de Grego. Tanto que, neste idioma, a palavra aluno é σπουδαστής, algo como "spondastiz", se transliterado ao alfabeto Latino. Onde estaria a Raiz {a}? E a Raiz {lum}? Alumnus seria αλυμνυς e alumno seria αλυμνo, mas essas duas formas não existem no Grego, o que faz cair por terra a teoria pedagógica: como uma palavra Grega não existiria no próprio Grego? E, aqui, não falo de valor semântico, que pode mudar de um idioma para o outro, mas da não-existência da palavra no léxico do idioma (Por exemplo: no Brasil, usamos a palavra inglesa outdoor para os letreiros de propaganda, mas, em inglês, usa-se billboard).

Em suma: em aluno, encontramos, ao contrário do que muitos doutores de teorias furadas defendem, um sentido metafórico e até poético. O conhecimento que a escola lhe dá (ou deveria dar) alimenta-o intelectualmente, fazendo-o crescer. A comparação com o alimento orgânico foi realmente genial.

Esta pequena crítica mostra o quão importante é ensinar LÍNGUA nas faculdades, ao contrário do que se tem feito. O Professor precisa, SIM, saber a chamada (e endemoniada) Gramática Padrão, Norma Culta ou seja lá como a denominam. Ele não precisa encher seus ALUNOS de regras e nomes estranhos, mas deve conhecê-los para que não saia dizendo besteira em teorias furadas. Deixemos Paulo Freire um pouco de lado e estudemos Napoleão Mendes de Almeida, Alcebíades Fernandes Jr. e Celso Cunha. Não vai fazer mal.

Certo, doutores?

- Darini


==== Bibliografia: ====

GÓES, Carlos. Diccionario de Raizes e Cognatos da Lingua Portugueza. 1ª ed. Belo Horizonte: Imprensa Official do Estado de Minas Geraes, 1921. 359 pág.

KÖBLER, Gerhard. Indogermanisches Wörterbuch. Disponível em http://www.koeblergerhard.de.

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