sábado, 26 de setembro de 2009

Uma Nova Literatura?

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Basta um rápido passeio em qualquer livraria, e podemos notar: atualmente, existe uma incrível diversidade literária disponível aos leitores. Todos os gostos parecem estar refletidos nas intermináveis prateleiras, muitas delas com títulos a preços promocionais do tipo "só não leva quem não quer".

Entretanto, se pensarmos nos temas dessas obras, teremos meia-dúzia de categorias em que podemos inseri-las:

- Autoajuda: é, provavelmente, o câncer literário dos dias atuais. Porta sempre o mesmo discurso genérico e vazio ("Siga em frente!", "Busque seu sonho!", "Não desanime!" etc). Geralmente, o autor do livro de autoajuda é aquele camarada que vai na sua empresa fazer aquela meia-dúzia de dinâmicas estranhas, fala o que você quer ouvir, faz o comercial dele e pronto. No dia seguinte, você percebe que nada do que ele disse é tão prático como se imaginava.

- Manuais: É manual para ser um bom pai, para ser uma boa mãe, para ser um bom empregado, para ser um bom chefe, para ser um bom irmão, para se conformar com a vida, com o marido, com a briga de trânsito, com o chifre... tudo é colocado de uma maneira que faz com que pensemos serem todas as situações iguais. Você não é ninguém sem ler um desses, será um ser-humano melhor se ler um desses (faz-me rir...).

- Leituras corporativas em geral: poderiam até ser enquadradas na categoria "Manuais", mas conseguem disfarçar e se distinguir desta. Coisas como "relacionamento humano nas organizações", "dinâmicas de grupo" e afins são abordados aqui. Aliás, o que está acontecendo com as terminologias? Empresa virou "organização", empregado virou "associado" ou "colaborador"; "caso" anglicizou-se e virou "case"...

- Animais: Na onda de "Marley & eu", encontramos uma avalanche de livros sobre animais e seu relacionamento com os donos. Coisas do tipo: "Meu cachorro e eu", "Minha coruja e eu", "Meu papagaio e eu", "Minha sogra e eu", "Minha perereca e eu" são obras comuns nas prateleiras. Certamente, seu animal preferido já está protagonizando algum romance; se ainda não estiver, é tudo uma questão de tempo.

- II Guerra Mundial: Outras dúzias de títulos do tipo "A Biblioteca Secreta de Hitler", "A Cozinha Maravilhosa de Mussolini", "Como matar um duce" e outros. Nesse caso, podemos considerar o tema "Sociedades Secretas" como uma subcategoria (ou esta daquela, vai saber).

- Romances religiosos em geral: Também há uma infinidade, do tipo "Jesus, Da Vinci e Dan Brown: O Enigma da Brown GP", "Os filhos de Maria Madalena (ditado pelo Anjo Gabriel), "O ateu reencarnado" etc.

Embora eu esteja tentando ser irônico nesta postagem, o que procuro questionar é: esse tipo de literatura realmente leva o leitor a refletir, a pensar, a analisar o meio e mundo onde vive? Faz o cara raciocinar? Sim, eu sei que pode haver um pouco de entretenimento nas artes da escrita, mas parece que estamos pendendo totalmente para o lado da alienação. De que me adianta saber sobre "O dia-a-dia dos 100 maiores empreendedores do mundo", se são pessoas diferentes, que viveram situações diferentes? Quando o recém-nascido chorar, os pais de primeira viagem terão de ver no manual como proceder? E se não estiver lá?

Sempre achei que a Literatura fosse "a História contada pelas palavras da Arte". História, aqui, é a disciplina mesmo.

Isso colocado, meu medo é alguém dizer: para uma sociedadezinha tão ordinária como a nossa, esses livros estão de bom tamanho.

Não duvido.

- Darini

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