segunda-feira, 3 de agosto de 2009

As Raízes Linguísticas e a Literatura

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Consideremos a história de um determinado povo. Depois, coloquemo-na na mente de um poeta ou escritor. Nasce a Literatura. Não caberá, aqui, falar pormenorizadamente de Gêneros Literários ou (ainda menos) fazer a Análise Literária de alguma obra. O que nos interessa, ao trabalharmos com a Morfologia aplicada na Literatura, é a observação de como as Raízes e seus valores Semânticos são apresentados.

É necessário ressaltar alguns exemplos que mostram como o poder da Palavra (em nosso caso, da Raiz) é importante no papel que os personagens desempenharão, mesmo que de forma implícita.

Raiz - *{DERK} (i.e.) > {DRAC} (grego) = serpente alada

Algumas Ocorrências:

Idioma

Palavra

raiz(is)

Sufixo

VT

Alemão

Drache

{drach}


{e}

Inglês

Dragon

{drag}

{on}


Holandês

Draak

{draak}



Norueguês

Drake

{drak}


{e}

Sueco

Drake

{drak}


{e}

Português

Dragão

{drag}

{ão}


Francês

Dragon

{drag}

{on}


Pelo Germânico Antigo *drako, proveniente do Indo-Europeu *{derk}. Presente nos contos mitológicos de várias culturas ancestrais, podemos notar a transformação por metátase (*{derk} > *{drek} > {drac}) nos principais idiomas modernos derivados do i.e., sejam Germânicos, como listados acima, sejam os Neolatinos: Dragon (Francês); Dragone (Italiano); Dragón (Espanhol) – todos vindos do Latim: Draco.

Raiz - *{KAILO} > {HAG}

Algumas Ocorrências:

Idioma

Palavra

raiz(is)

Sufixo

Anglo-Saxão

Halig

{hal}

{ig}

Alemão

Heilig

{heil}

{ig}

Inglês

Holy

{ho}

{ly}

Holandês

Heilig

{heil}

{ig}

Norueguês

Hellig

{hell}

{ig}

Sueco

Helig

{hel}

{ig}

Significado: Santo
Raízes: {HAG} (grego) = santo; *{KAILO} (i.e.)

Mais uma Raiz muito comum nas línguas Germânicas, {hag} também aparece de forma interessante no Gótico: háuheins significa louvar e háuhjan significa glorificar. Um exemplo interessante que já ocorria no Alemão Antigo é o nome próprio Hagen, retirado da primeira epopéia germânica, chamada “A Canção dos Nibelungos”. Embora seja o vilão da história, não seria de se estranhar que se tratasse mesmo da raiz {hag} = santo, pois sua lealdade à rainha protagonista da trama o leva à morte.

Aqui, temos mais dois exemplos de nomes próprios retirados da “A Canção dos Nibelungos”. São eles:

Raiz a - *{PERD} > {PRI} > {FRI}

Raiz b - *{SEG} > {SI} > {SIEG}

Idioma

Palavra

raiz(is)

Sufixo

VT

Alemão Antigo

Sifride

{si}; {frid}

Não há

{e}

Alemão Moderno

Siegfried

{sieg}; {fried}

Não há

não há

Significado: trata-se de um nome próprio

Aqui, há uma clara aglutinação de duas Raízes, a saber:

Raízes: {SIEG} (alemão) = vitória; {FRI} < {PRI} (latim / grego) = quebrar. Vemos, a princípio, a metátase em *{perd} (i.e.) > {pri} e, em seguida, há um efeito consonantal inicial em {pri} > {fri}. Há também a perda da Vogal Temática, por assimilação, da palavra Sifride, quando passada do Alemão Antigo para o Alemão Moderno. Quanto aa raiz *{seg}, a mudança de e para i ocorre já no Gótico *sigus e no Anglo-Saxão sig, provavelmente por influência de uma vogal fechada final.

Raiz - {BRUN}:

Idioma

Palavra

Raiz

Sufixo

VT

Alemão Antigo

Prvnnhilde

{prvn}; {hild}

não há

{e}

Alemão Moderno

Brunhild

{brun}; {hild}

não há

{e}

Significado: trata-se de um nome próprio
Raiz: {BRUN} (francês) = louro

É muito interessante a preocupação semântica dos nomes pelo autor da trama. Nela, Siegfried tem claras as características do herói: disposto a conquistar a bela Kriemhild, vai ao reino dos burgúndios, na cidade de Worms, ameaçando os regentes de tomar-lhes os domínios. Com o passar da trama, contudo, Siegfried parece desistir da idéia e acaba tornando-se aliado de Gunther, o rei burgúndio (também pelo fato de que a irmã deste agradava ao jovem herói). Com a ajuda de Siegfried, o soberano consegue vencer os saxões e os dinamarqueses, além de conquistar a poderosa Brunhild rainha da Islândia.

Dono de uma força extraordinária, Siegfried tem um único ponto fraco: uma pequena região nas costas, pela qual é morto por Hagen. A morte do guerreiro invencível (Siegfried) nos remete às raízes de seu nome: “a quebra da vitória”; a derrota daquele que sempre vencia.
Por outro lado, o BRUN (francês, que significa “louro”) é a descrição física padrão de uma rainha nórdica: a branca de olhos azuis com cabelos loiros. Vimos, nesses pequenos exemplos, a preocupação literária de quem escreveu a epopéia, ligando o valor semântico da palavra às características dos personagens.

- Darini

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