domingo, 31 de maio de 2009

Sociedade em "Memórias Póstumas de Brás Cubas"

****


Em seu "Memórias Póstumas de Brás Cubas", Machado de Assis mostra um pouco da sociedade da época, criticando-a principalmente. Vale lembrar que Brás Cubas é um solteirão que busca o ápice da carreira política, e para que seja “bem visto” e “aceito”, deve ser casado.
Tratando-se da sociedade da época, Brasil-império tendo Rio de Janeiro como capital, os tipos nada se diferem daqueles do romantismo. O que faz a diferença é o modo como são mostrados e a crítica que Machado de Assis faz a suas ações. Algumas críticas que Machado faz à sociedade são:

Cap. 24 – Curto, mas alegre: Ao falar da “franqueza” de um defundo, Brás Cubas comenta: “Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência...” – aqui podemos ver sua crítica à máscara social da época, pessoas fingindo ser o que não são escondendo seus defeitos e de outros, apenas para se sobressair perante a sociedade.

Cap. 31 – A Borboleta Preta: Em seu quarto, Brás Cubas é surpreendido por uma borboleta preta (pela superstição popular, traz má-sorte). Ele a sacudiu, ela pousou na vidraça; ele repete o gesto, ela pousa no quadro com a foto de seu pai. O personagem sente-se incomodado com o inseto, atira-lhe uma toalha e ele cai agonizante, em seguida morre.
Neste momento, Brás Cubas faz uma interessante análise do porquê de a borboleta estar ali e querer permanecer no local, como se ele fosse o “criador das borboletas”, e termina com a fala: “... não, volto à primeira idéia ; creio que para ela era melhor ter nascido azul”.
Ora, tendo Machado vivido numa época de escravidão, e sendo ele filho de uma negra, podemos deduzir que aqui ele usa metaforicamente a imagem da borboleta preta para dar sua crítica à escravatura. O “para ela era melhor ter nascido azul” pode ser traduzido, para a situação da época “era melhor ter nascido branco”, uma vez que a situação dos negros escravos no Brasil era desumana.

Cap. 68 – O Vergalho: Novamente, Machado faz uma crítica (mais aberta) contra a escravidão. Brás Cubas andava pelas ruas e vê um negro punindo outro com um vergalho. Ele se aproxima e percebe que aquele que pune, era escravo e fora solto, no passado, pelo pai de Brás Cubas. Eles se reconhecem, e Brás diz a ele que pare de punir o escravo; é prontamente atendido. A crítica também vai ao próprio negro que era livre, e que por uma razão ou outra arrumava para si um escravo, tratando-o da mesma forma como um senhor fizera com ele.

Cap. 84 – O Conflito: Machado critica o “acreditar por acreditar”, principalmente em relação ás crendices populares. Dona Plácida diz que um sapato não podia estar “voltado para o ar”, pois fazia mal. Ele diz: “Disseram-lhe isso em criança, sem outra explicação, e ela contentava-se com a certeza do mal. Já não acontecia a mesma coisa quando se falava em apontar uma estrela com um dedo; aí sabia perfeitamente que era caso de criar uma verruga”.

Cap. 123 – O Verdadeiro Cotrim: “... é indispensável casar, principalmente tendo ambições políticas. Saiba que na política, o celibato é uma remora.” – ele mostra que o político bem-sucedido deveria mostrar à sociedade seu sucesso no plano familiar, mesmo que fosse apenas para manter as aparências.

Cap. 145 – Simples Repetição: Brás Cubas já faz uma crítica aberta ao famoso “golpe do baú”. Neste capítulo, Dona Plácida de como dote 5 contos de réis a um sujeito que dela se fingira enamorado. Casaram-se e, depois de um tempo ele vendeu as apólices e fugiu com o dinheiro.
Quincas Borba é um personagem muito interessante, pois mostra o tipo de pessoa que acredita em algo, constrói uma filosofia de vida e vai até o fim com seus planos, sejam eles certos ou não, tragam-lhe benefícios ou não. No começo ele se mostra pobre, trabalha sobre sua tese do “Humanitismo” que, conforme dizia, era a religião do futuro, recebe herança de um tio e termina a história novamente pobre, mas desta vez ele enlouquece, morrendo dessa forma.
Talvez a figura de Quincas seja também uma crítica de Machado ao fanatismo a alguma teoria ou religião, ou ao trabalho excessivo que leva à moléstia (Quincas pensava freqüentemente em suas teorias, tendo sempre uma resposta a tudo usando seus preceitos).

- Darini

domingo, 24 de maio de 2009

Minha carta de suicídio

****

Interessante como a esmagadora maioria dos suicidas tem, necessariamente, de deixar uma carta explanando os motivos que a levaram a realizar tal feito. Analisando por alto, creio que a carta significa algo como: "olha, eu não morri acidentalmente, nem de causas naturais, tampouco fui assassinado por alguém. Se ainda resta sombra de dúvidas, saibam que eu mesmo me matei".

É esse (a grosso modo) o objetivo da carta de adeus. Entretanto, descrever as razões que levaram a pessoa ao suicídio cabe somente ao suicida em questão. Jogar a culpa em alguém é uma boa, pois, do ponto de vista do acusado, saber que fomos culpados pela desgraça de outro, acaba por nos deixar num estado-de-espírito extremamente abalado.

Como seria minha carta de adeus? Eu, se me suicidasse, diria sem mais delongas:


"Tô de saco cheio, e a culpa é de TODOS vocês. O último que sair, apague a luz."


- Darini

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A Língua Portuguesa é machista?

********

Não, caro leitor, a Língua Portuguesa não é "machista" (independente do fato de seus falantes o serem ou não). A regra é clara: diz mais ou menos que "quando há um grupo de seres de gêneros diferentes, devemos nos referir a eles pela declinação - chamemo-la assim - masculina". Isso acontece praticamente sempre no plural e, muitas vezes, no singular (veja como comecei o texto). O que fazemos, mesmo que inconscientemente, é aplicar, à construção, uma função NEUTRA mascarada de masculino.

Vejamos: muitas línguas, até hoje, mantém o gênero neutro em suas palavras. O inglês deve ser o mais notório, mas, nele, a coisa é fácil: rezam que "tudo o que é animal ou objeto é neutro". Exceções vão para animais de estimação ou navios grandes (que são femininos). O Latim tinha seus substantivos neutros, o alemão moderno os tem, o russo etc. Nos idiomas neolatinos, mantivemos apenas alguns resquícios do caso neutro. As palavras "isto", "aquilo" e "tudo" são espólio do neutro latino.

Historicamente, indo a tempos mais remotos do que o Latim, o gênero neutro deve ter surgido no ramo Indoeuropeu pela seguinte lógica: objetos de uso masculinos terão a declinação masculina, de uso feminino terão a declinação feminina e os de uso comum serão neutro. Simples, né? Sim, se considerarmos uma sociedade extremamente dividida no que concernia às funções específicas de cada gênero.

Acontece que, com o passar dos séculos, o gênero dos substantivos (no caso) perdeu essa ligação com o gênero daquele que "o possuía", e passou a ser considerado masculino, feminino ou neutro apenas por sua desinência final. Mais tempo passou, e o neutro foi sendo inutilizado. A declinação das palavras deste gênero foi se confundindo com as do masculino, fazendo com que a maioria das palavras neutras do Latim se tornassem masculinas no Português (e demais Línguas românicas).

No alemão, ao contrário, o artigo utilizado para o plural é o mesmo que o feminino singular. Portanto, se traduzirmos "Die Männer" (os homens) literalmente, teríamos "A" homens. Seria o alemão uma língua feminista?

Por outro lado, geralmente em discursos políticos recheados de demagogia, ouvimos construções como "Nobres deputados e deputadas" ou "Queridos professores e professoras", como se fosse extremamente necessário ressaltar que há um público de homens e mulheres em determinado auditório. Bobagem.

É por isso, leitoras, que as trato como "queridos leitores". Falta-me a desinência neutra para satisfazer aos afãs de ativistas mais exaltados (ou exaltadas?)

- Darini

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Humor em "Memórias Póstumas de Brás Cubas"

**************

A obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é repleta de um humor sarcástico, típico de Machado de Assis. Nesta obra, o autor (que se confunde com o personagem) brinca com a morte, já no prefácio vemo-lo dedicando as memórias ao primeiro verme que lhe roer as frias carnes do cadáver. Seguem alguns trechos em que podemos ver o toque de humor de Machado:


Cap 7 - O Delírio: neste capítulo, Brás Cubas relata como foi seu próprio delírio, dizendo que primeiramente tomou a forma de um barbeiro chinês que escanhoava um mandarim. Este, lhe pagava o serviço com beliscões e confeitos. Em seguida, transformou-se na Summa Theologica de São Tomas, e em seguida, tornando à forma humana, foi com um hipopótamo que o leva ao princípio dos séculos, ao Éden.


Cap 26 - O Autor Hesita: Averso ao casamento, Brás Cubas tem um diálogo com o pai, que lhe arranjara uma noiva:


“... quanto à noiva, deixe-me viver como um urso, que sou.”

- Mas os ursos casam-se, replicou ele.

- Pois traga-me uma ursa. Olhe, a Ursa Maior...


Cap 33 - Bem-Aventurados os que não descem: Ele se pergunta o porquê de Eugênia ser uma mulher tão atraente e bonita e, ao mesmo tempo, ser coxa. “... Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita?”


Cap 49 - A Ponta do Nariz: Brás Cubas filosofa sobre o “vencer na vida” e a ponta do nariz; sobre o faquir que olha para a ponta de seu nariz para que veja a luz celeste. Termina com: “... há duas forças capitais: o amor, que multiplica a espécie, e o nariz, que a subordina ao indivíduo. Procriação, equilíbrio.”


Cap 71 - O Senão do Livro: Segundo o autor, há nele o arrependimento de ter escrito o livro, pois este “é enfadonho, cheira a sepulcro...” porém, diz que o maior defeito do livro é o leitor, que tem pressa de envelhecer, ao passo que o livro anda devagar, e compara seu estilo de escrever como o ébrio, que ora vai à esquerda, ora à direita, para chegar num lugar.


Cap 92 - Um Homem Extraordinário: Machado usa o humor para criticar a política: “Saíra do Rio de Janeiro, por desacordo com o Regente, que era um asno, pouco menos asno do que os ministros que serviam com ele.”


Cap 103 - Distração: Brás Cubas nos ensina um modo de recear encarar os olhos de outrem: “Lembra-me que desviei o rosto e baixei os olhos ao chão. Recomendo este gesto às pessoas que recearem encararem a pupila de outros olhos. Em tais casos, alguns preferem recitar uma oitava dos Lusíadas, outros adotam o recurso de assobiar a Norma; eu atenho-me ao gesto indicado; é mais simples, exige menos esforço.”


Ainda neste capítulo, ele relata como tirou uma mosca, com uma formiga agarrada à sua pata, do brinco de Virgília que caíra ao solo: “... então eu, com a delicadeza nativa de um homem de nosso século, pus na palma da mão aquele casal de mortificados, calculei toda a distância que ia da minha mão ao planeta Saturno, e perguntei que interesse podia haver num episódio tão mofino.” E ao salvar os dois insetos, termina com: “E Deus viu que isso era bom, como se diz na Escritura”.


Cap. 130 - Para Intercalar no capítulo 129: Aqui, Machado escreve todo o capítulo e termina dizendo: “Convém intercalar este capítulo entre a primeira oração e a segunda do capítulo 129”. De fato, se o fizermos, veremos que este capítulo inteiro encaixa-se perfeitamente onde o autor sugere.


Cap. 136 - Inutilidade: Todo o capítulo é apenas um devaneio do autor; nele apenas há: “Mas, ou muito me engano, ou acabo de escrever aqui um capítulo inútil.”


Cap. 138 - A um crítico: Brás Cubas dirige-se a um crítico que por ventura possa estar lendo suas memórias, dizendo que “seu estilo já não é tão lesto como nos primeiros dias”, isto é, em cada fase da narração de sua vida, ele experimenta a sensação correspondente.


Cap. 139 - De Como Não Fui Ministro d'Estado: Talvez por nem ele mesmo saber os motivos da questão que intitula o capítulo, Brás Cubas o preenche com pontilhados, como que se deixasse ao leitor a resposta para aquilo.


- Darini

domingo, 17 de maio de 2009

GREAT ARE THE MYTHS - poema de Walt Whitman

**********

GREAT ARE THE MYTHS. Leaves of Grass (1867)
http://www.whitmanarchive.org/published/LG/1867/poems/139

1 GREAT are the myths—I too delight in them;
Great are Adam and Eve—I too look back and accept
them;
Great the risen and fallen nations, and their poets,
women, sages, inventors, rulers, warriors, and
priests.

2 Great is Liberty! great is Equality! I am their
follower;
Helmsmen of nations, choose your craft! where you
sail, I sail,
I weather it out with you, or sink with you.

3 Great is Youth—equally great is Old Age—great
are the Day and night;
Great is Wealth—great is Poverty—great is Expres-
sion—great is Silence.

4 Youth, large, lusty, loving—Youth, full of grace,
force, fascination!
Do you know that Old Age may come after you, with
equal grace, force, fascination?

5 Day, full-blown and splendid—Day of the immense
sun, action, ambition, laughter,
The Night follows close, with millions of suns, and
sleep, and restoring darkness.

Neste poema, Walt Whitman "equaliza" tudo na vida: as grandes nações emergentes com as decadentes, os poetas, sábios, guerreiros... em uma poesia repleta de antíteses, que são sempre chamadas de "grande", Walt parece celebrar a grandeza da vida, mesmo com sua inconstância para melhor ou para pior (que nos leva a vencer ou aprender a superar obstáculos). Tratando da estrofe 5:

"Dia desabrochado e esplêndido... dia de Sol imenso, de ação, de ambição e risadas,
A noite segue de perto, com milhões de sóis, e sono, e treva restauradora".

Transcedentalista, Whitman descreve o dia como que falando da beleza do viver, cheio de alegria; ao mesmo tempo, fala da morte (a noite), que sempre acompanha a vida e traz consigo a "treva restauradora" (o suspiro final, ou descanso eterno). Além disso, a restauração nos sugere um novo acordar, que pode significar o despertar para uma nova vida nesse mundo ou um despertar espiritual num mundo novo e desconhecido.

- Darini

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Fim de férias...

***

Pegar o infeliz que inventou o "dia útil", o que inventou o "horário comercial" (deve ter sido o mesmo) e enforcá-los com as próprias tripas.

- Darini

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Bill Maher

***

Há tempos que venho acompanhando os vídeos desse cara, comediante da HBO (acho), ferrenho defensor da racionalidade contra o que chama de "religião organizada" (fez o documentário "Religulous"). Anti-Bush assumido, é o cara do tipo "ame ou odeie", pois coleciona simpatizantes e críticos. Um programa histórico seu foi quando ele tirou a força, de seu programa, os chamados "911 truthers", um povo que acredita que um dos prédios do WTC foi implodido deliberadamente pelo governo dos EUA:

"Bill Maher & 911 Truthers"

Faz parte do PETA, portanto é boa gente 8) . Mas, como ninguém é perfeito, ele acha que os irmãos Wright inventaram o avião:

Clique aqui - vale a pena ver, pois ele dá uma zoada com o Brasil e com o futebol.

E, aqui, ele cita o Brasil no quadro que chamava "Exit Strategy". Eram dicas de fuga caso o McCain ganhasse a eleição, morresse e a Sarah Pallin assumisse a presidência.

É um tipo de formador de opinião que, definitivamente, precisávamos ter no Brasil. Mas, conhecendo nosso povinho e a demagogia que o cerca, creio não duraria no ar nem por uma semana.

- Darini

sábado, 2 de maio de 2009

Ensaio sobre a Cegueira - Livro de José Saramago

********

Em seu "Ensaio sobre a Cegueira", Saramago critica o rumo que as coisas tomaram nesta época em que vivemos. A "cegueira branca" que se alastra pela cidade, poupando apenas uma mulher, nos faz refletir sobre os problemas que, para a maioria de nós, passam despercebidos. Por quantas vezes, em nossa rotina "automatizada", não damos atenção, fazemos vistas grossas ou, simplesmente, ignoramos necessidades humanas que nos estão logo à frente? Num tempo em que tudo deve ser rápido, automático e produtivo, o ser-humano está deixando de ser humano. Estamos virando "robôs que comem e respiram". O outro? "Que eu tenho a ver com as necessidades do outro?" Essa é nossa cegueira branca.

Nessa cidade (ou mundo) que criou Saramago, todos são iguais. Não há nomes para os personagens e o modo como o autor os apresenta (através de alguma característica, profissão ou defeito) torna-os mais vivos em nossa memória. Podemos nos esquecer de vários nomes de personagens provenientes de clássicos lidos outrora, mas, com certeza, lembraremos da figura da "mulher do médico", "o velho da venda preta" e, até mesmo, do "cão das lágrimas" por muito tempo, até mesmo pelo fato de serem personagens do dia-a-dia, que podem ser encontrados em qualquer cidade real. A prostituta, o velho, o ladrão, o motorista de táxi, o menino abandonado... são eles que protagonizam o Ensaio. Não são heróis, mas pessoas marginalizadas sobre as quais o autor coloca os holofotes. Ele mostra que elas existem e que podem superar suas dificuldades, principalmente se houver uma mão amiga que os guie (mulher do médico).

A cegueira branca, de certa forma, atinge o leitor. Como pode uma jovem, às vistas da sociedade, apaixonar-se por um homem pobre, defeituoso e que não segue os padrões convencionais de beleza? Durante a leitura, não acreditamos que isso pudesse acontecer, mas o sentimento que nasce entre a rapariga de óculos e o velho da venda preta é maior do que qualquer "convenção" ou interesse superficial que possa surgir no coração humano. É algo profundo e que transcende qualquer estereótipo ou preconceito.

Pessoas do povo que se tornam mais iguais do que nunca, e têm de conviver em comunidade por tempo indeterminado aturando suas diferenças e defeitos. O governo? Este já está cego antes de tudo e de todos, pois fazem o que muitos governantes fazem: eliminam o mal, mas não sua causa. O modo desumano com que os "contaminados" são tratados realmente impressiona: tudo a eles é feito à distância. Um passo em falso, e a morte lhes era certa. O medo daqueles ditos diferentes causa uma celeuma coletiva: "teve contato com um cego? Está condenado!"

Os personagens precisam passar por uma revolução de vida para serem curados de sua cegueira. Provavelmente, é isso que José Saramago espera daqueles que lerem esta obra: quando vamos fazer nossa própria revolução de vida, e nos curar de nossa cegueira branca?

O "Ensaio sobre a Cegueira" é um ótimo livro, tanto na técnica utilizada pelo autor para escrevê-lo (parecendo um filme, tamanha a dinâmica do texto), assim como uma obra filosófica, para que pensemos no ser-humano como humano e liberto de sua cegueira coletiva.

- Darini

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Vou "na" cidade ver o Arcaísmo!

***************

Quer ver um professor "padrão" de Português ter um surto? É só escrever como fiz no título dessa postagem. Entretanto, como (quase) tudo na língua tem uma explicação, lá vai o porquê de, frequentemente, "errarmos" a regência do verbo "ir": é um arcaísmo que mantivemos. A grosso modo, Arcaísmo é uma forma antiga da língua que, por algum motivo, se manteve.

Pode-se ver, na canção d'amigo de Pero Amigo (trovador do século XIII), o seguinte trecho:

“Quand'eu un dia fui en Compostela

En romaria, vi ua pastor...”


Nota-se que o autor usa a preposição “en” (em) junto ao verbo “ir” no passado (fui), o que não está de acordo com a norma culta contemporânea, que diz ser correto o uso da preposição “a” (fui a Compostela). Porém, na linguagem coloquial e do dia-a-dia, usa-se, no Português não-padrão brasileiro, a preposição “em” (“Fui na casa de Maria”). Trata-se de um arcaísmo que se manteve, isto é, uma característica antiga da sintaxe da língua que se enraizou na fala popular.

- Darini