sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

In Tempore Senectutis - Poema de Ezra Pound

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In Tempore Senectutis


When I am old
I will not have you look apart
From me, into the cold,
Friend of my heart,
Nor be sad in your remembrance
Of the careless, mad-heart semblance
That the wind hath blown away
When I am old.

When I am old
And the white hot wonder-fire
Unto the world seem cold,
My soul's desire
Know you then that all life's shower,
The rain of the years, that hour
Shall make blow for us one flower,
Including all, when we are old.

When I am old
If you remember
Any love save what is then
Hearth light unto life's December
Be your joy of past sweet chalices
To know then naught but this
"How many wonders are less sweet
Than love I bear to thee
When I am old."


Em “In Tempore Senectutis”, encontramos um Ezra muito mais “existencial”, falando de um amor quase platônico, mas que nunca fica claro se é dirigido a um homem ou mulher, a uma amizade ou paixão – o verso “Friend of my heart” não pode ser levado como conclusivo para essa afirmação, já que a palavra “friend” pode ser dirigida a um(a) amigo(a) ou namorado(a). A constante repetição de “When I am old” faz uma quebra no poema; quebra que leva o leitor a pensar em sua própria situação de quando a velhice chegar. Cada vez que ele menciona essa frase, é como se nos dissesse: “está chegando... está chegando”.

Alguns momentos, como a passagem “Nor be sad in your remembrance”, nos faz perceber que essa mensagem é dirigida a alguém que, no momento do “When I am old”, ou seja, quando a velhice chegar, estará longe, apenas na lembrança; ou foi feita para quando o próprio autor fosse essa lembrança, e deixa um recado a seu amor para que não se entristeça com as memórias passadas.

O poema tem lindas e profundas metáforas. Vejamos o seguinte trecho:

The rain of the years, that hour
Shall make blow for us one flower,
Including all, when we are old.

A “chuva dos anos” (a idade, o passar dos anos) fará nascer uma flor que inclua tudo (ou todas as outras flores), quando estivermos velhos. É possível, nessa passagem, o entendimento de que essa flor nada mais é que o acúmulo de vivência, de amores, de sentimentos, de experiências, de sabedoria... de tudo aquilo que o ser humano adquire com o passar dos anos. Podemos ler isso também como uma meta na vida humana: apenas alguns privilegiados terão essa flor, apenas aqueles que chegarem nesse estágio da vida serão merecedores e contemplados.

Tudo isso para quê? Para um final simples, mas esperado por todos aqueles que amam:

"How many wonders are less sweet
Than love I bear to thee
When I am old."

Quais maravilhas serão menos doces do que o amor que eu carrego por você quando (eu) estiver velho. – ou seja, o ápice do amor não acontece no primeiro namoro, na ilusão mascaradora da juventude, mas sim na velhice, ao termos passado por provações, tentações, problemas desilusões etc. É depois de tudo isso que temos a certeza do sentimento, é quando temos o verdadeiro desabrochar da flor. Reparemos também que o autor não finaliza o poema com uma interrogação, mas deixa a afirmação de que talvez nenhuma maravilha seja mais doce do que esse amor.

- Darini

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Um pouco de Raízes e Afixos

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Analisar Raízes e Afixos a partir do Indo-Europeu é como montar um quebra-cabeças lingüístico. É perceber como alguns elementos se tornaram variantes em diferentes Línguas, assim como outros se tornaram comuns, seja em sua ortografia, seja na mudança semântica ocorrida através do espaço geográfico e tempo.

Os primeiros comparativistas buscavam relacionar diferentes Línguas e estabelecer, entre elas, o grau de “parentesco”, assim como classificá-las nos mais diferentes ramos e famílias. Vale ressaltar que os primeiros estudos comparativistas não levam em consideração o aspecto da mudança da Língua no decorrer do tempo. Portanto, o Latim era comparado ao Sânscrito, que poderia ser comparado ao anglo-saxão, mesmo sendo todas elas de períodos históricos diferentes.

Grimm (sim, um dos irmãos escritores de contos infantis), ao contrário de Franz Bopp e seus antecessores, iniciou um estudo comparativo das Línguas no decorrer do tempo. Estudou também o ramo Germânico das Línguas Indo-Européias, o que lhe proporcionou verificar quais mudanças ocorreram com o passar do tempo. Através de suas pesquisas, pôde-se verificar que o fluxo histórico interfere na regularidade dos processos de mudança Lingüística.

Já os Neogramáticos vieram questionar o modo como a Lingüística estava sendo tratada e estudada. Para eles, a Língua era determinada por fatores psicológicos, e defendiam a aproximação da Lingüística Histórica com a Psicologia. Por se tratar a Lingüística de uma ciência, buscavam uma explicação científica para todo e qualquer fenômeno do Idioma, não aceitando que se caracterizassem apenas como “casualidades” deste. O principal benefício à Lingüística trazido pelos Neogramáticos é que, depois deles, os estudos da Língua puderam ser tratados com maior acuidade.

Uma das correntes Lingüísticas é o “biologismo” de Schleicher. Para ele, a Língua era independente do falante, isto é, ela existia obedecendo às leis da natureza, como um elemento da ciência natural. Sendo botânico, influenciaram-no as teorias evolucionistas de Darwin, e preocupou-lhe classificar as Línguas como numa árvore genealógica, buscando familiaridades entre elas. Por outro lado, os neogramáticos acreditavam que a Língua dependia, sim, do falante, e a mudança dela ocorria por conta deste, desencadeando o que chamavam de ação recíproca dos indivíduos, ou seja, a propagação dessas mudanças lingüísticas de falante para falante.


- Darini

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Pinga ni mim...

Que coisa... só por ter tomado uns gorós a mais, o Ministro da Fazenda japonês pediu demissão do cargo! Vejam só:

http://www.youtube.com/watch?v=NEYbs47Ze78


Se a moda pega, hein... era pro Lula nem ter pisado no planalto! :)

- Darini

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Mr. Jones - Conto de Truman Capote

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Nas poucas páginas de “Mr. Jones” (um conto que se parece mais com uma crônica), o narrador relata o tempo em que viveu num quarto alugado no bairro do Brooklin. Ele foca a história em seu vizinho, Mr. Jones, que vivia no maior quarto da casa, e de onde o narrador via pessoas de todos os tipos e idades entrando e saindo, mas não sabia o que toda essa gente queria com ele. Cego e aleijado, Mr. Jones não saía de casa, e todas as suas necessidades de consumo eram supridas pelas empregadas daquele lugar. Fossem amigos ou pessoas que pagavam para ouvir seus conselhos, ele acredita que aquele homem era alguém entre um pastor e um terapeuta.

O tempo passou, o narrador muda-se de bairro e um dia volta para pegar alguns livros que deixara em seu quarto. Pergunta a uma das empregadas sobre Mr. Jones, e ela diz que está desaparecido há quase um mês, e que tudo em seu quarto estava intacto, mas ele não estava mais lá. Dez anos se passam, e o narrador está em Moscou, no metrô. Do outro lado do corredor, ele vê um homem que acredita sero antigo vizinho. Ele analisa a fisionomia, tendo certeza de que era ele. Mas, antes de poder atravessar o vagão e ir lhe falar, Mr. Jones levanta-se e sai do trem, tendo as portas fechadas logo atrás dele.

Considerando o período de tempo em que se passa a narrativa (1945-1955), Capote pode ter feito, neste conto, uma referência à guerra fria. Ele nos faz supor que Mr. Jones era, na verdade, um agente em ação nos EUA, assim como o narrador pode ser um agente em missão na então URSS, por isso a referência a estar em Moscou quando do reencontro.

Outro olhar que podemos ter sobre esse final misterioso e inesperado, é que Capote nos mostra que nem tudo aquilo a que somos condicionados a acreditar é verdade. Ao mesmo tempo, também nos remete à pequenez do mundo em que vivemos, e como podemos reencontrar tipos que fizeram parte do nosso passado quando menos esperamos. Esses inesperados reencontros nos fazem descobrir verdades que essas pessoas até então mantinham escondidas.



- Darini