quinta-feira, 30 de abril de 2009

Appendix Probi - parte III

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Apenas algumas reflexões em torno do assunto:

1- Durante as últimas décadas, tem-se discutido muito a respeito do que se deve aceitar como sendo uma real mudança linguística. Os erros normativos de hoje podem bem ser considerados norma culta daqui a cinquenta ou cem anos. Um exemplo? Lá vai:

Me falaram muito mal dessa cidade. (ao invés de Falaram-me muito mal dessa cidade). Presente em várias construções do Italiano e Espanhol, a norma culta do Português faz uma maior restrição ao início de oração com o pronome oblíquo. Este seria liberado, quando, por exemplo, houvesse uma palavra atrativa:

Ele disse que me leva ao parque. (ao invés de Ele disse que leva-me ao parque). Nesse caso, a conjunção "que" funciona como palavra atrativa e traz o pronome oblíquo para antes do verbo. Há outros casos.

O próprio Latim "ignorava" a ordem das palavras na sentença, pois, para o entendimento de suas funções sintáticas, havia as declinações. Portanto, poder-se-ia iniciar um período pelo objeto indireto, por exemplo, sem que este fosse confundido com o sujeito.

2- Esteja onde estiver, Probo não deve estar de todo chateado. Algumas palavras se mantiveram (ou quase) da forma como ele ensinou. Vejam:

sobrius non suber - "sóbrio" em português, uma forma bem mais parecida do que "suber".

angulus non anglus - "ângulo" em português (ainda não "engolimos o "u").

columna non colomna - "coluna" em português.

aquaeductus non aquiductus - "aquaduto" em português.

masculus non mascel - "másculo" em português.

meretrix non menetris - acertamos na meretriz!

3- Por outro lado, ele deve estar se retorcendo na cova, pois mantivemos os "erros" dos seus alunos:

formica non furmica - Tudo bem, podemos escrever e falar /formiga/, mas também podemos falar /furmiga/.

bravium non brabium - Vejam só! O pessoal já ficava "brabo" desde aquele tempo!

calida non calda - Essa é para os italianos! Algo é cálido em português, mas é "caldo" em italiano.

umbilicus non imbilicus - O imbigo também tem o "i" desde aquele tempo.

camera non cammara - Também vivemos confundindo a "Câmera de execuções".

socrus non socra - Não tem jeito... sogra é problema desde aqueles tempos.

Esses comentários são mais uma forma irônica de repararmos como a língua, de fato, muda. Seja por "preguiça" da língua (a da boca, parte do corpo) em pronunciar certas combinações, seja pela não aceitação da regra padrão por parte de uma determinada sociedade, seja por "imposição" das classes dominantes etc. Que vai mudar, é fato e uma questão de tempo.

Pobre Pobro. Ele que o diga...

- Darini

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