sexta-feira, 22 de maio de 2009

A Língua Portuguesa é machista?

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Não, caro leitor, a Língua Portuguesa não é "machista" (independente do fato de seus falantes o serem ou não). A regra é clara: diz mais ou menos que "quando há um grupo de seres de gêneros diferentes, devemos nos referir a eles pela declinação - chamemo-la assim - masculina". Isso acontece praticamente sempre no plural e, muitas vezes, no singular (veja como comecei o texto). O que fazemos, mesmo que inconscientemente, é aplicar, à construção, uma função NEUTRA mascarada de masculino.

Vejamos: muitas línguas, até hoje, mantém o gênero neutro em suas palavras. O inglês deve ser o mais notório, mas, nele, a coisa é fácil: rezam que "tudo o que é animal ou objeto é neutro". Exceções vão para animais de estimação ou navios grandes (que são femininos). O Latim tinha seus substantivos neutros, o alemão moderno os tem, o russo etc. Nos idiomas neolatinos, mantivemos apenas alguns resquícios do caso neutro. As palavras "isto", "aquilo" e "tudo" são espólio do neutro latino.

Historicamente, indo a tempos mais remotos do que o Latim, o gênero neutro deve ter surgido no ramo Indoeuropeu pela seguinte lógica: objetos de uso masculinos terão a declinação masculina, de uso feminino terão a declinação feminina e os de uso comum serão neutro. Simples, né? Sim, se considerarmos uma sociedade extremamente dividida no que concernia às funções específicas de cada gênero.

Acontece que, com o passar dos séculos, o gênero dos substantivos (no caso) perdeu essa ligação com o gênero daquele que "o possuía", e passou a ser considerado masculino, feminino ou neutro apenas por sua desinência final. Mais tempo passou, e o neutro foi sendo inutilizado. A declinação das palavras deste gênero foi se confundindo com as do masculino, fazendo com que a maioria das palavras neutras do Latim se tornassem masculinas no Português (e demais Línguas românicas).

No alemão, ao contrário, o artigo utilizado para o plural é o mesmo que o feminino singular. Portanto, se traduzirmos "Die Männer" (os homens) literalmente, teríamos "A" homens. Seria o alemão uma língua feminista?

Por outro lado, geralmente em discursos políticos recheados de demagogia, ouvimos construções como "Nobres deputados e deputadas" ou "Queridos professores e professoras", como se fosse extremamente necessário ressaltar que há um público de homens e mulheres em determinado auditório. Bobagem.

É por isso, leitoras, que as trato como "queridos leitores". Falta-me a desinência neutra para satisfazer aos afãs de ativistas mais exaltados (ou exaltadas?)

- Darini

4 comentários:

Unknown disse...

Culpa de quem inventou os portugueses, ops, o Português... Ou seja, viva o Latim e suas desinências neutras!
Na parte "demagógica" do post, há mais "machismo português". Não seria "Queridos professores e queridas professoras"?

Darini, o Valente disse...

Ah, sim, eu "errei" essa parte. Mas vou deixar dessa forma mesmo. :)

Anônimo disse...

Bom comentario, não tem nada mais irritante do que políticos falando: "eleitores e eleitoras, amigos e amigas..."

Anônimo disse...

não sei se surge exatamente do indo-europeu, pois persa, tanto antigo como moderno, não faz nenhuma distinção de gênero gramatical, nem nos pronomes pessoais, nem em desinências de adjetivos, substantivos, e tampouco em artigos.

ou seja, acho que as feministas que reclamam de machismo no português, poderiam exaltar o irã, já que é um país tão reconhecido internacionalmente por respeitar os direitos das mulheres e não praticar qualquer nível de segregação de gênero, nem mesmo na língua que falam...