quarta-feira, 20 de maio de 2009

Humor em "Memórias Póstumas de Brás Cubas"

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A obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é repleta de um humor sarcástico, típico de Machado de Assis. Nesta obra, o autor (que se confunde com o personagem) brinca com a morte, já no prefácio vemo-lo dedicando as memórias ao primeiro verme que lhe roer as frias carnes do cadáver. Seguem alguns trechos em que podemos ver o toque de humor de Machado:


Cap 7 - O Delírio: neste capítulo, Brás Cubas relata como foi seu próprio delírio, dizendo que primeiramente tomou a forma de um barbeiro chinês que escanhoava um mandarim. Este, lhe pagava o serviço com beliscões e confeitos. Em seguida, transformou-se na Summa Theologica de São Tomas, e em seguida, tornando à forma humana, foi com um hipopótamo que o leva ao princípio dos séculos, ao Éden.


Cap 26 - O Autor Hesita: Averso ao casamento, Brás Cubas tem um diálogo com o pai, que lhe arranjara uma noiva:


“... quanto à noiva, deixe-me viver como um urso, que sou.”

- Mas os ursos casam-se, replicou ele.

- Pois traga-me uma ursa. Olhe, a Ursa Maior...


Cap 33 - Bem-Aventurados os que não descem: Ele se pergunta o porquê de Eugênia ser uma mulher tão atraente e bonita e, ao mesmo tempo, ser coxa. “... Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita?”


Cap 49 - A Ponta do Nariz: Brás Cubas filosofa sobre o “vencer na vida” e a ponta do nariz; sobre o faquir que olha para a ponta de seu nariz para que veja a luz celeste. Termina com: “... há duas forças capitais: o amor, que multiplica a espécie, e o nariz, que a subordina ao indivíduo. Procriação, equilíbrio.”


Cap 71 - O Senão do Livro: Segundo o autor, há nele o arrependimento de ter escrito o livro, pois este “é enfadonho, cheira a sepulcro...” porém, diz que o maior defeito do livro é o leitor, que tem pressa de envelhecer, ao passo que o livro anda devagar, e compara seu estilo de escrever como o ébrio, que ora vai à esquerda, ora à direita, para chegar num lugar.


Cap 92 - Um Homem Extraordinário: Machado usa o humor para criticar a política: “Saíra do Rio de Janeiro, por desacordo com o Regente, que era um asno, pouco menos asno do que os ministros que serviam com ele.”


Cap 103 - Distração: Brás Cubas nos ensina um modo de recear encarar os olhos de outrem: “Lembra-me que desviei o rosto e baixei os olhos ao chão. Recomendo este gesto às pessoas que recearem encararem a pupila de outros olhos. Em tais casos, alguns preferem recitar uma oitava dos Lusíadas, outros adotam o recurso de assobiar a Norma; eu atenho-me ao gesto indicado; é mais simples, exige menos esforço.”


Ainda neste capítulo, ele relata como tirou uma mosca, com uma formiga agarrada à sua pata, do brinco de Virgília que caíra ao solo: “... então eu, com a delicadeza nativa de um homem de nosso século, pus na palma da mão aquele casal de mortificados, calculei toda a distância que ia da minha mão ao planeta Saturno, e perguntei que interesse podia haver num episódio tão mofino.” E ao salvar os dois insetos, termina com: “E Deus viu que isso era bom, como se diz na Escritura”.


Cap. 130 - Para Intercalar no capítulo 129: Aqui, Machado escreve todo o capítulo e termina dizendo: “Convém intercalar este capítulo entre a primeira oração e a segunda do capítulo 129”. De fato, se o fizermos, veremos que este capítulo inteiro encaixa-se perfeitamente onde o autor sugere.


Cap. 136 - Inutilidade: Todo o capítulo é apenas um devaneio do autor; nele apenas há: “Mas, ou muito me engano, ou acabo de escrever aqui um capítulo inútil.”


Cap. 138 - A um crítico: Brás Cubas dirige-se a um crítico que por ventura possa estar lendo suas memórias, dizendo que “seu estilo já não é tão lesto como nos primeiros dias”, isto é, em cada fase da narração de sua vida, ele experimenta a sensação correspondente.


Cap. 139 - De Como Não Fui Ministro d'Estado: Talvez por nem ele mesmo saber os motivos da questão que intitula o capítulo, Brás Cubas o preenche com pontilhados, como que se deixasse ao leitor a resposta para aquilo.


- Darini

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