A
lua brilhava no céu limpo de Gorvet, iluminando os vastos campos da planície
onde cavalos e vacas descansavam de mais um moroso dia. No alto do forte,
sentinelas e guerreiros ficavam a postos para uma improvável ação naqueles
tempos de paz. As corujas alimentavam seus filhotes, que prururavam por mais
comida.
Os humanos dormiam, garantindo, assim, o
período de maior tranquilidade naquele lugar. O ambiente ficava ainda mais
bucólico sem toda aquela gente capinando, roçando, levando carroças para cima e
para baixo, vendendo, comprando, discutindo, brigando, correndo, treinando, rezando,
latindo, negociando preços de grãos, galinhas, vegetais, carnes, utensílios
variados, tecidos e afins.
Pelos
matagais, voava o vaga-lume. Por entre os roseirais, fazia sua dança de vai e
vem, deixando no ar o rastro de sua luz. Gostava de margear a lagoa, sempre
tomando cuidado com um ou outro peixe que tentava abocanhá-lo; ia, então, até a
base da fortaleza, onde, sorrateiramente, sempre testemunhava uma meia-dúzia de
soldados dormindo no plantão. Vivia vendo a vida alheia.
Entrava
nas casas, aproveitando para se aquecer perto da fogueira, naquelas noites
geladas. Ouvia apenas o estalar da madeira e o ronco dos seres dormentes. Procurava,
no chão, algo que pudesse lhe servir de alimento, já que voar cansava. Às vezes,
acabava por trombar contra outros insetos voadores, o que causava um pequeno
mal-estar. Afinal, ter de suportar uma tontura em pleno ar não é para qualquer
um.
Entristecia-se
cada vez que via o Sol ameaçando tomar o lugar da Lua. Achava estranho como o
excesso e a falta de luz causavam tanta diferença no comportamento de tudo
naquele mundo. Adorava o silêncio da noite, que vinha acompanhado pelo barulho das
folhas balançando ao vento e das águas que passeavam pelo rio que cortava
aquele vilarejo.
Gostava
de pousar sobre uma árvore, onde meditava por horas a fio, sentindo-se até
mesmo parte dela. Ele a sentia, ouvia-a, conversava com ela. Era sua
confidente; sua melhor amiga. Ela parecia protegê-lo de insetos ou animais
maiores, pois, assim que pousava nela, ninguém mais ousava se aproximar dela. Viviam
como dois apaixonados, num só corpo.
De repente,
o Sol nascia. E, com ele, para sua tristeza, toda aquela gente a capinar,
roçando, levar carroças para cima e para baixo, vender, comprar, discutir,
brigar, correr, treinar, rezar, latir, negociar preços de grãos, galinhas,
vegetais, carnes, utensílios variados, tecidos e afins.
Era
essa a hora de se recolher em seu velho e oco tronco, longe de toda aquela
confusão. Ansiava pela volta da noite, quando poderia aproveitar o melhor
daquele mundo. O mundo do qual se achava rei.
- Darini
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