quarta-feira, 22 de julho de 2015

O Vaga-Lume

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A lua brilhava no céu limpo de Gorvet, iluminando os vastos campos da planície onde cavalos e vacas descansavam de mais um moroso dia. No alto do forte, sentinelas e guerreiros ficavam a postos para uma improvável ação naqueles tempos de paz. As corujas alimentavam seus filhotes, que prururavam por mais comida.

 Os humanos dormiam, garantindo, assim, o período de maior tranquilidade naquele lugar. O ambiente ficava ainda mais bucólico sem toda aquela gente capinando, roçando, levando carroças para cima e para baixo, vendendo, comprando, discutindo, brigando, correndo, treinando, rezando, latindo, negociando preços de grãos, galinhas, vegetais, carnes, utensílios variados, tecidos e afins.

Pelos matagais, voava o vaga-lume. Por entre os roseirais, fazia sua dança de vai e vem, deixando no ar o rastro de sua luz. Gostava de margear a lagoa, sempre tomando cuidado com um ou outro peixe que tentava abocanhá-lo; ia, então, até a base da fortaleza, onde, sorrateiramente, sempre testemunhava uma meia-dúzia de soldados dormindo no plantão. Vivia vendo a vida alheia.

Entrava nas casas, aproveitando para se aquecer perto da fogueira, naquelas noites geladas. Ouvia apenas o estalar da madeira e o ronco dos seres dormentes. Procurava, no chão, algo que pudesse lhe servir de alimento, já que voar cansava. Às vezes, acabava por trombar contra outros insetos voadores, o que causava um pequeno mal-estar. Afinal, ter de suportar uma tontura em pleno ar não é para qualquer um.

Entristecia-se cada vez que via o Sol ameaçando tomar o lugar da Lua. Achava estranho como o excesso e a falta de luz causavam tanta diferença no comportamento de tudo naquele mundo. Adorava o silêncio da noite, que vinha acompanhado pelo barulho das folhas balançando ao vento e das águas que passeavam pelo rio que cortava aquele vilarejo.

Gostava de pousar sobre uma árvore, onde meditava por horas a fio, sentindo-se até mesmo parte dela. Ele a sentia, ouvia-a, conversava com ela. Era sua confidente; sua melhor amiga. Ela parecia protegê-lo de insetos ou animais maiores, pois, assim que pousava nela, ninguém mais ousava se aproximar dela. Viviam como dois apaixonados, num só corpo.

De repente, o Sol nascia. E, com ele, para sua tristeza, toda aquela gente a capinar, roçando, levar carroças para cima e para baixo, vender, comprar, discutir, brigar, correr, treinar, rezar, latir, negociar preços de grãos, galinhas, vegetais, carnes, utensílios variados, tecidos e afins.

Era essa a hora de se recolher em seu velho e oco tronco, longe de toda aquela confusão. Ansiava pela volta da noite, quando poderia aproveitar o melhor daquele mundo. O mundo do qual se achava rei.

- Darini

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