sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A Metáfora

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A Metáfora é, creio, a maior invenção comunicativa humana. É um modo escondido de dizer uma situação, sentimento ou descrição que parecem claros, uma maneira lógica (!!!) de forçar o raciocínio por códigos, às vezes, difíceis de serem interpretados.

O maior objetivo da Metáfora é o de surpreender o leitor (no caso de um texto escrito). Depois, se muito usada e desgastada, corre o sério risco de cair no limbo maldito dos clichês (ou dos clichês malditos).

A Metáfora pode ser mais elaborada, como pode-se ver neste trecho do Poema "Violões que choram", de Cruz e Souza:

Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.

Em outros casos, a Metáfora pode ser ainda mais difícil, como neste excerto de Garcia Lorca - ("A Selva dos Relógios" - retirado do sítio http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=12035 ):

"Os morcegos nascem / das esferas. / E o bezerro os estuda / preocupado. / Quando será o crepúsculo / de todos os relógios? / Quando essas luas brancas / se fundirão aos montões?"

No poema acima, reparem na complexidade das Metáforas utilizadas. Sei pouco sobre o assunto, mas o Surrealismo carrega a ideia de construir / desconstruir, bem como a de estar "fora" do real, ou a de representar elementos oníricos. De qualquer forma, se tentarmos formar essas figuras em nossa mente, teremos criado um acervo imaginário bem interessante.

Por outro lado, há os clichês, que, como disse antes, não deixam de ser Metáforas: "Não sobrará pedra sobre pedra"; "Meus filhos, minha vida"; "Há uma luz no fim do túnel" etc. Eles podem ter tido ar de novidade em alguma época, mas, hoje, lidos em praticamente qualquer contexto, parecem estar escritos em linguagem denotativa, tal é a frequência com que nos deparamos com eles. Não causam mais surpresa ao leitor. Virou chavão, lugar-comum.

E, claro, não podemos ignorar o fato de haver elementos metafóricos na construção de palavras. Se analisarmos Morfemas em geral (mormente as Raízes), perceberemos isso. Por exemplo, na palavra "colaborar", há o Prefixo {co}, que significa junto, e a Raiz {labor}, que significa trabalho. Se alguém pede a "colaboração de todos", esses elementos não ficam explícitos. Talvez, com as palavras do dia a dia, com as Raízes e demais Morfemas aglutinados, a situação que temos é a de "além-clichê". Colaborar, para a maioria de nós, remete à ideia de ajudar. E só.

Outra palavra interessante é "explicar". Nela, há o Prefixo {ex}, significando muito, e a Raiz {plic}, que significa dobrar. É a mesma Raiz presente nas palavras multiplicar, triplicar etc. Traduzindo a palavra através de seus Morfemas, temos algo como "dobrar para fora" - dobrar sua fala, seus exemplos, até que seu interlocutor entenda.

Portanto, seja na formação de palavras, seja na elaboração da mais elaborada poesia, a presença da Metáfora mostra um lado interessante da mente humana: o de associar, fazer comparações, esconder ou disfarçar seus sentimentos e medos.

Não concordava muito com a máxima "O Poeta é um fingidor" de Fernando Pessoa, mas acho que ele tem razão. Todos somos.

- Darini

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