Entrei no ônibus, sentei no banco que me apetecia, abri minha mochila e, olhando para duas familiares capas, veio-me a dúvida: Kant ou Sartre?
Antes que o tempo da dúvida percorresse até o meu ponto de destino, num ao desesperado eu me levanto e grito aos passageiros: "Pessoal, por favor... Kant ou Sartre?"
Passageiro 1: Sua dúvida já responde a questão, meu caro! Que posso saber? Que devo fazer? Que me é dado esperar? É Kant!
Passageiro 2: Claro que não, não acredite nele! Existencialismo é o que há! O existencialismo é um humanismo! O mundo é povoado de em-si! Nossa consciência é para-si! Leia Sartre!
Passageiro 3: Não, não! Nem racionalismo nem empirismo! É Kant!
Passageiro 4: O padre está mentindo!
Passageiro 5: Isso é Nietzsche, seu asno!
Passageiro 6: Abaixo a burguesia! É Sartre!
Passageiro 7: Seja transcedental. Leia Kant!
Passageiro 8: Você é livre e responsável por tudo que está em sua volta. Nossos valores existem sem a necessidade de Deus existir. Por isso, é Sartre!
Passageiro 9: Prefiro e sempre preferirei um enfoque transcedental constituído em uma revolução copernicana na filosofia. Vá de Kant!
Depois de muita discussão, vi aquela gente se engalfinhando e partindo para as vias de fato. A briga, obviamente, começou pelos apoiadores de Sartre.
Vi a tristeza que minha dúvida se tornara. Desiludido com a filosofia, guardei os livros de volta na mochila onde, pra minha surpresa, vi que havia dois gibis: do Cebolinha e do Chico Bento.
E agora?
- Darini
P.S.: Ajudou nas referências: http://www.if.ufrgs.br/~lang/Textos/KANT.pdf
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