Ele
sabia que tinha de fugir. Por isso, corria desesperadamente pela relva, sem se
preocupar com qual caminho seguir. Todos eram válidos; o importante era que
saísse dali.
Todos
os animais acompanhavam-no com o olhar, como se interessados no porquê de tamanha
pressa. E ele corria.
Corria
de tudo, de todos, de si mesmo. Corria dos problemas, das feras selvagens, das
manadas e matilhas raivosas famintas por sua carne. Corria, porque seu instinto
mandava. Corria, porque era levado pelo primitivismo que tomava conta de sua
alma e do ambiente.
A cada
dúzia de passos, uma pequena luta e um novo cansaço. Sentia-se pressionado,
sufocado, angustiado. Era como se estivesse no corredor do pós-morte.
De
vez em quando, sons horríveis tomavam conta de sua mente. Era como se a
essência do sadismo o torturasse. Sentia tamanha crueldade martelando seu
coração.
Preferiria
estar em outro lugar, em outra situação. Mas sabia que tinha de correr. Sabia
(ou achava) que sua vida dependia disso. Vivia como num teatro, numa eterna
encenação das coisas por que passava e dos seres com quem se encontrava.
Queria
que seu espírito e consciência pudessem se separar do corpo, e que atingissem
um lugar de paz e tranquilidade, ao tempo em que o pedaço de carne móvel que
sobrava pudesse exercer seu papel de saco de pancadas. Seria indolor. Seria o
certo.
Não
aguentava mais aquilo, mas sabia que tinha de continuar. Achava que não teria
mais forças, mas algo como que mágico o empurrava adiante. E mais adiante. E
mais adiante. Sabia que não poderia resistir, que aquela força é muito maior do
que ele mesmo. Do que sua própria vontade.
Às
vezes, atordoado, gozava por alguns momentos de inconsciência. Durante esse
estado, conseguia se desligar de tudo. Por poucos segundos, sentia a paz.
Quando,
porém, voltava a si, via-se cercado por mais de mil demônios, fazendo-lhe subir
um frio na espinha que terminava com um suador na testa e nas mãos. Fechava os
olhos, tentando, assim, amenizar aquela visão dantesca.
De
repente, um apito agudo soava...”tuuuuuuuuuuuuuu-tuuuuuuuuuuuuuuuu...”
E
uma tenebrosa voz anunciava:
- Darini